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Em tempos de eleição

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Antonio fazia uma caminhada pela calçada de seu bairro, quando avistou vários cavaletes de propaganda política na esquina seguinte. Decidiu dar uma parada na lanchonete. Já sentado, começou a observar os políticos. Homens brancos, de terno, sorridentes. Alguns dos rostos já lhe eram familiar devido à insistência em aparecer em todas as esquinas, em santinhos e na televisão. Antonio se perguntou se algum deles sentia vergonha de ser político. Afinal, andar com a cara estampada por aí, representando uma classe tão famosa pela desonestidade e incompetência não parece nada agradável. “A não ser que o dinheiro compense”. Para Antonio, político é uma ofensa. “Tanto faz chamar de ladrão ou de político”. Sentiu vergonha alheia por aqueles homens de dentes brancos, que nem na aparência faziam questão de representar o povo. “Imagina na prática”. Formado em medicina, Antonio nunca teve muito tempo para prestar atenção em política. Sabia pouco sobre o sistema democrático b

A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio

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O jornalismo brasileiro possui ressalvas em divulgar casos de suicídio. A maioria dos jornais, incluindo todas as plataformas, prefere omitir quaisquer informações a respeito de pessoas que tentam ou conseguem tirar a própria vida, a não ser que seja alguma personalidade. O objetivo dessa atitude coletiva é respeitar o indivíduo e os familiares e, principalmente, evitar o incentivo à disseminação do suicídio. Um relatório inédito da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado no último dia 4 de setembro, revelou que a cada 40 segundos, uma pessoa no mundo comete suicídio. É um dado assustador, mas importante para trazer à tona um problema pouco comentado no cotidiano dos noticiários. De fato, a veiculação de suicídios poderia incentivar a prática, mas e a omissão? O Brasil é o 8º país entre as nações com maior número de suicídio. No ano de 2012, o país registrou 11.821 mortes por suicídio, sendo 9.918 de homens e 2.623 de mulheres, uma taxa de 6% para cada 100 mil habi

Um repórter da África

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Gilungua Miguel João tem 29 anos e, a pesar do nome complicado, é gente boa. Mora em Lubango, capital da província da Huíla, em Angola, na África.  É recém-formado em Comunicação Social no Instituto Politécnica Tundavala (ISPT), na província de Huíla. Já teve experiências profissionais em Portugal, mas há dois anos exerce a função de repórter na TV Zimbo e na Rádio Comercial do Lubango (Rádio 2000) há nove anos. Miguel já já conheceu os países Gabão, Cabo-verde, Namíbia, Portugal e Espanha. AG - Como é o estilo de vida em Luanda? Gilungua Miguel - A vida em Luanda é difícil.  Não poderia ser diferente, pois se trata da capital do país e, portanto, o centro das atenções.  É uma cidade pequena, embora seja considerada o centro de negócios da África. Abriga muitos povos, tanto nacionais quanto estrangeiros. É o ponto do país em que mais se registram atos de delinquência, insegurança. Obviamente ainda há algumas zonas da cidade que apresentam tranquilidade, como Cidade Alta,

Um raro dia chuvoso

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http://bit.ly/1rwvmLL Um dia chuvoso é sempre um dia de renovação. Um momento de folga das obrigações mesmo quando não se pode deixar o trabalho. É um dia no qual nos damos conta de que a natureza tem mais poder do que nosso tempo sempre tão bem controlado. Uma chuva torrencial é capaz de mudar os planos obrigatoriamente. Nesse dia é possível que você fique preso no carro esperando a chuva diminuir para poder chegar ao trabalho. Isso pode te permitir alguns minutos ouvindo o cair da água e te fazer contemplar a corrida das gotas no para-brisa do carro. Pode ser que você repare em uma árvore sendo molhada e se sinta revivendo como ela. A chuva nos faz pensar na vida, no que conquistamos, nos objetivos futuros, mas, principalmente no que temos feito nos intervalos disso tudo. Há quanto tempo você não se permite ser molhado por essas águas? Há quanto tempo prefere manter a roupa e os cabelos secos ao invés de sentir a água natural escorrendo pelo seu corpo? É em um dia assim que re

"Adeus é brasileiro"

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A manchete do jornal português A Bola, que afirma "Adeus é brasileiro" é de fato a mais criativa dos noticiários mundiais. Criatividade, inclusive, é um dos ingredientes ausentes em campo e motivo do vexame brasileiro. Perder para a seleção alemã já era previsível, ao menos para aqueles que acompanharam o desempenho dos jogadores alemães durante o campeonato. Ainda assim, esperava-se por um resultado menos vergonhoso para o histórico do tradicional futebol brasileiro. Entretanto, agora, é justamente esse fator que precisa ser repensado e debatido: onde deixamos de ser os melhores? Porque não mais lançamos craques com a mesma frequência dos tempos de Pelés e Ronaldinhos e ainda assim nos acomodamos?  Ao avaliar as partidas de seleções como Argentina, Alemanha, Holanda, França, Itália e até Colômbia, é nítida a superioridade do desempenho desses jogadores se comparados ao futebol brasileiro. A distância do Hexacampeonato parece ficar maior para o Brasil a cada an

Uma geração que mudou até os ditados

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Os ditados populares foram bons conselheiros aos homens por décadas, quiçá por séculos. Durante esse tempo, foram responsáveis por sintetizar e adiantar situações, baseados em experiências antecedentes. Entretanto, a partir dos anos 90, iniciou-se um processo de transformação e até de desconstrução desses ditados: um súbito reflexo da mudança de comportamento das novas gerações. Concomitantemente ao surgimento da internet e à sua democratização, aos avanços tecnológicos e à profusão da informação, uma nova geração passou a se desenvolver. Jovens naturalmente mais instruídos, revolucionários e pseudo-experientes (já que a aparente experiência advém, na verdade, do consumo de informação) vêm transformando o conceito global de sociedade. Essa geração rompeu paradigmas. Do bem e do mal. A ponto de nem os ditados populares lhe servirem mais, a não ser quando adaptados: “a fé remove montanhas. A dinamite então, nem se fala”, “a união faz açúcar”, “a primeira impressão é a que

Dúvida de 2014: Torcer pelo Hexa ou protestar?

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http://on.fb.me/SxKknU Robson está animado por participar da manifestação dos motoristas de ônibus, reivindicando melhores condições de trabalho e aumento de salário. E nesse 13 de julho está orgulhoso de si mesmo por ter deixado de fazer parte da massa manipulada e, ao invés de assistir a final da Copa – com a seleção brasileira em campo – vai lutar por seus direitos. São Paulo está verde e amarela, mas Robson age com naturalidade. Tenta não focar na bandeira nacional exposta na entrada dos bancos ou sendo carregada pela garotinha. Desvia a atenção para não despertar as emoções que todo esse cenário pode estimular. “Patriotismo de verdade é lutar por um país melhor e não dar ibope a esse circo”, pensa o jovem motorista, fazendo referência à política do pão e circo, tão eficaz desde a  Roma  Antiga. Robson pega seu material de protesto e se dirige até o ponto de encontro dos motoristas manifestantes. Lá, retira as cartolinas amassadas da mochila e pensa no que escrever