Uma geração que mudou até os ditados
Os ditados populares foram bons conselheiros aos
homens por décadas, quiçá por séculos. Durante esse tempo, foram responsáveis
por sintetizar e adiantar situações, baseados em experiências antecedentes.
Entretanto, a partir dos anos 90, iniciou-se um processo de transformação e até
de desconstrução desses ditados: um súbito reflexo da mudança de comportamento
das novas gerações.
Concomitantemente ao surgimento da internet e à sua
democratização, aos avanços tecnológicos e à profusão da informação, uma nova
geração passou a se desenvolver. Jovens naturalmente mais instruídos,
revolucionários e pseudo-experientes (já que a aparente experiência advém, na verdade, do
consumo de informação) vêm transformando o conceito global
de sociedade.
Essa geração rompeu paradigmas. Do bem e do mal. A
ponto de nem os ditados populares lhe servirem mais, a não ser quando
adaptados: “a fé remove montanhas. A dinamite então, nem se fala”, “a união faz
açúcar”, “a primeira impressão é a que fica, se o cartucho for novo”, “devagar
se vai ao longe, mas demora um tempão!”, “escreveu, não leu, é semianalfabeto”,
“há males que vem para o bem, mas a maioria vem para o mal mesmo”.
As simples alterações nesses ditos populares já representam
os predicados e as distorções dessa geração. Por um lado, pessoas mais criativas,
persistentes, movidas por novas ideologias, solidárias, inteligentes, perspicazes,
motivadas. Por outro, jovens menos tolerantes, mais egoístas, dependentes de
euforia e sensações facilmente encontradas em substâncias psicoativas, cativos
da superexposição e mais suscetíveis à depressões.
Uma geração capaz de viver intensamente os dois
extremos da vida, a depender dos estímulos que recebe. Pode ser tão má quanto
boa. Mas, apesar de tanta revolução, dos ditados melhor empregados, da consciência
da finitude da vida – a despeito da aparente inconsequência – ainda têm muito a
aprender. Aprendizados que podem ser buscados no Google, mas que precisariam
ser vividos na prática.
O otimismo sempre nos fará esperar algo de muito
bom dessa geração. Todavia esperar não é suficiente. Precisamos ensiná-los
melhor também. Propor novos ambientes de estudo, onde possam aprender os velhos
ensinamentos – úteis onde o Wi-Fi não funciona. E apresentar-lhes o bom das
gerações passadas: as brincadeiras ao ar livre; o respeito aos anciãos; os
livros físicos e não apenas suas versões digitais; o papel e a caneta; o tempo
livre.
Aos pais: menos superproteção, mais
responsabilidades impostas. Aos filhos: menos arrogância e tempo gasto com a
própria imagem. Afinal, é somente unindo o progresso e as boas características
do estilo de vida atual às experiências que deram certo no passado, que se
alcançará uma sociedade mais humanitária, coexistente com o comodismo
tecnológico.
Caso contrário, é aqui o começo da destruição
humana, sem eufemismos. Não por culpa de uma única geração, mas pela inércia e despreparo
dos antecessores de repassarem antigos ensinamentos. Que se adaptem ditados e
se criem novos, desde que se tenha entendido os velhos.
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