A origem das facções criminosas no Brasil
Ao fundar o conceito de sociedade e aplicar nela
o capitalismo, o homem também foi responsável por incentivar o surgimento das sociedades
marginalizadas, em que os indivíduos se adaptam ao submundo a partir das
possibilidades que lhe são apresentadas. No caso das favelas no Brasil e em
outras partes do mundo, os sujeitos têm (em sua maioria) nas facções criminosas
o respaldo que a política capitalista foi incapaz de proporcionar à todos os
cidadãos. Mas como surgiram as organizações criminosas atuantes no país?
Pela defasagem que temos em conhecer o passado da nossa nação, esta é uma pergunta raramente feita por termos a impressão de que essas facções sempre estiveram nos presídios e favelas, mas ao ler o livro “Comando Vermelho - A história do crime organizado”, do jornalista Carlos Amorim, pude conhecer o provável fator que culminou na fundação dos grupos criminosos.
Pela defasagem que temos em conhecer o passado da nossa nação, esta é uma pergunta raramente feita por termos a impressão de que essas facções sempre estiveram nos presídios e favelas, mas ao ler o livro “Comando Vermelho - A história do crime organizado”, do jornalista Carlos Amorim, pude conhecer o provável fator que culminou na fundação dos grupos criminosos.
O incentivo para a formação das facções foi
gerado por uma atitude impensada do governo nos anos da ditadura militar (1964
e 1985), em que os presos políticos foram obrigados a cumprir pena nas mesmas
cadeias que os presos comuns. Esse “descuido” modificou o crime em cidades como
Rio de Janeiro e São Paulo, onde, antes, bandidos agiam sozinhos em ações
desorganizadas e eram facilmente capturados.
Todavia, a partir do momento em que os
criminosos comuns passaram a conviver com guerrilheiros políticos, acabaram
absorvendo de seus companheiros de cela a ideologia, a organização e o espírito
de equipe. Com a junção de presos, os bandidos tiveram acesso à leituras
(verdadeiros manuais de guerrilha) e à todo o conhecimento dos guerrilheiros,
que lhes ensinaram além de ler e escrever, tudo o que sabiam sobre política e
ações criminosas (embora as realizassem com o único intuito de desestabilizar o
governo ditador).
Essa troca de conhecimentos certamente não foi
proposital ou planejada, mas uma consequência de todo o “tempo livre que se tem
na cadeia”, como cita o próprio autor. Afinal, mesmo a batalha mais justa pode
tornar-se injusta nas intenções erradas. Dessa forma, os criminosos obtiveram toda
informação necessária para formular uma organização também ideológica
(inicialmente eles queriam um sistema prisional com melhores condições), porém
com um cunho individualista, já que as mudanças eram apenas para aquele âmbito.
O presídio de Ilha Grande ou Instituto Penal
Candido Mendes, no Rio de Janeiro, foi o palco para a fundação do Comando Vermelho (CV) em 1980,
logo após os presos políticos serem libertados pela Lei da Anistia em 1979. Uma
reportagem feita pelo repórter Wanderley Moreira, para o Fantástico, demonstra a situação
miserável a que os presos eram submetidos em Ilha Grande. Uma justificativa
para a rebelia dos prisioneiros e para o surgimento de um grupo capaz de lutar
pelos interesses dos criminosos.
A justificativa era plausível, pois na mesma
reportagem de Moreira, um preso chega a dizer que “se eu receber um bom
tratamento, eu vou ser um bom interno, mas se eu receber um mau tratamento eu
vou ser o que? Um interno mais periculoso do que ela”. A realidade era tão
deplorável que a prisão também ficou conhecida como “Caldeirão do Diabo” – má
reputação que, aos poucos culminou na desativação do presídio, no ano de 1994.
O primeiro desafio do Comando Vermelho foi
conseguir a supremacia dentro da própria Ilha Grande; ação que só ocorreu após
algum tempo e muitas mortes. Ainda assim, o CV tomou posse e passou a administrar
a cadeia, requerendo condições melhores ante à administração e impedindo
desavenças entre os próprios presos (ocorriam muitos roubos e estupros entre
companheiros). Colocada ordem na casa, o próximo passo era conquistar
simpatizantes nos demais presídios, tarefa não tão difícil devido à luta pelos
direitos dos presos e da boa convivência dentro das celas.
Nos anos 90, o CV já atuava em todas as prisões
da cidade do Rio de Janeiro e, com o domínio do tráfico de entorpecentes, também
impusera seu sistema de comando na maioria das favelas do Rio. O poder era
tanto que passaram a apoiar candidaturas políticas. E, hoje, as práticas do CV
ainda são as mesmas: comando do tráfico de drogas e armamentos, apoio político
e atividades sociais nas favelas, obtendo o domínio pacífico – ou não – das
comunidades.
O agravante é que o Comando Vermelho agora tem parcerias
com políticos – em que ocorre a troca de apoio e dinheiro em várias escalas –, atua
em diversas prisões e cidades de todo o país e deu origem à outras facções como
o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. Além disso, o arsenal e a
organização desses grupos chegaram a tal nível que a força policial já não mais
ousa enfrentá-los, por dois motivos: a própria corrupção recorrente dentro das
corporações ou o medo desse combate. Até porque ceder à um bandido parece uma
boa opção diante da possibilidade de morte própria ou de algum ente.
A verdade é que, por uma ação não planejada, a
ditadura militar acabou gerando um sistema criminoso que veio para ficar.
Obviamente que militares e guerrilheiros jamais imaginaram que a união de
presos ideológicos e bandidos dentro das prisões criaria o monstro da facção.
Por isso mesmo não se pode avaliar positivamente o período de ditadura militar
no Brasil – comparando-o à atual realidade violenta da maioria das cidades –,
pois foi justamente essa ocasião que fomentou o surgimento de um novo crime: o
crime ideológico. Uma ideologia questionável, claro, mas que, em seu início
(quando deveria ter sido combatida), tinha fundamentos.
Abaixo, a reportagem do jornalista Wanderley Moreira:
Fotos acima retiradas do google.
Se não fosse o fato de começar o texto criticando e rebaixando o Capitalismo (modelo econômico - totalmente diferente do Socialismo, um modelo político) eu iria continuar lendo seu texto.
ResponderExcluirSei que possivelmente não faça diferença p/ você eu ler ou não seu material, maaaas, seria bom que fosse honesta em relação a criação das facções, que independente do Capitalismo, elas seriam criadas. Prova disso é Cuba, uma ilha que se diz No Capitalism e está afundada em drogas e claro, coligada ao narcotráfico.
Agradeço o comentário, embora não tenha compreendido sua crítica. Se reler o trecho ao qual se refere ("Ao fundar o conceito de sociedade e aplicar nela o capitalismo, o homem também foi responsável por incentivar o surgimento das sociedades marginalizadas, em que os indivíduos se adaptam ao submundo a partir das possibilidades que lhe são apresentadas."), entenderá que não "rebaixei o capitalismo". Fiz sim uma crítica ao sistema, sem torná-lo melhor ou pior do que outros. Afinal, nenhum é perfeito, ao contrário, todos têm seus prós e contras. Talvez devesse reler o primeiro parágrafo e continuar até o fim. Abraço!
ExcluirMuito interessante o ponto de vista. E sobre o avanço das milícias atualmente, bebem da mesma fonte?
ResponderExcluirQual fonte exatamente??
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