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Dia desses, eu estava em uma estação de metrô em
Nova York, quando um idoso, negro e corcunda passou abordando as pessoas,
pedindo dinheiro. Não sei se ele possuía algum problema de voz ou se o cansaço
da vida o tinha convencido a calar-se, pois ao invés de falar, ele apenas gesticulava
e mexia os lábios. Ainda assim, ao julgar pelas roupas, pelo suor e pelo jeito
recatado de andar, todos ao redor automaticamente entendiam quando ele erguia a
mão mostrando moedas como quem pede por elas.
Naquele momento, após ter andado o dia inteiro pela cidade, eu
estava segurando uma sacola, celular, mochila e muito cansaço e não tinha
certeza se possuía moedas na carteira. E aparentemente verificar me daria
muito trabalho, caso, no fim, não as encontrasse, portanto agi como todos que
ali estavam e, quando ele se aproximou de mim, eu apenas fiz uma cara de
piedade e neguei com a cabeça, sem sequer ter me esforçado para ajudar.
Porém
ele continuou me encarando e falou algo, inaudível, que só consegui entender
depois de certo de esforço: “You are beautiful”. Foi o que ele me disse apenas
mexendo os lábios. Minha resposta foi automática: “Thanks”. No entanto, assim
que ele continuou sua caminhada, recebendo negativas das pessoas, meu coração
se partiu ao meio. Como, nessas circunstâncias ele ainda foi capaz de me fazer
um elogio?
Como
você se comportaria na situação dele? Foi essa pergunta que me fiz naquele
instante. E, vergonhosamente, me dei conta de que certamente eu não faria
elogios a ninguém porque estaria preocupada demais com a minha própria condição.
Afinal, apesar de sensibilizada, se só por estar cansada, eu já fui incapaz de
procurar algumas moedas que sequer me fariam falta, imagina como reagiria no
lugar dele?
Talvez
você pense que eu senti remorso só porque ele me elogiou ou, pior, que ele só
fez isso na tentativa de me convencer a ajudá-lo. Mas não. Havia uma
sinceridade e uma inocência naquele olhar que há muito não vejo em corpos bem
vestidos por aí. Além disso, havia outra dezena de mulheres ao redor e,
observando-o desde que ele surgiu, notei que ele não trocou palavras com
ninguém mais.
Esse
acontecimento e a constatação da minha atitude me entristeceram. Passei o resto
do dia pensando sobre isso e pedindo a Deus para que eu realmente não tivesse aquele
dinheiro, assim me sentiria melhor. Mas horas depois, eu abri minha carteira e
me deparei com várias moedas e o constrangimento se agravou. A experiência foi
tão intensa que deixei as trocados no bolso e prometi a mim mesma sempre andar
com alguns, para o caso daquela situação se repetir.
Sim,
eu também já me questionei com a famosa frase: "Mas se você der esmola para
todos que pedirem, ficará pobre". Essa sempre será uma boa desculpa para a
autoenganação, mas na prática é tudo questão de prioridades. Se, de vez em
quando, eu optar por assistir um filme em casa ao invés de ir ao
cinema, por exemplo, poderei dar trocados para muita gente. E você, no que está
disposto a abrir mão para ajudar o próximo? Pequenas concessões também podem
fazer a diferença.
Sigo com o desejo profundo de reencontrar aquele senhor
algum dia e então, tendo ou não moedas, ser capaz de puxar
papo e dizer o quão sincero é aquele olhar. Fica o aprendizado de que não
devemos agir friamente com desconhecidos apenas porque outros agem assim. Ainda
que não se tenha dinheiro para ajudar, às vezes trocar umas palavras de coração
aberto, pode fazer tão bem ao outro quanto prover ajuda financeira. Já separou
suas moedas hoje?
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