Dúvida de 2014: Torcer pelo Hexa ou protestar?

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Robson está animado por participar da manifestação dos motoristas de ônibus, reivindicando melhores condições de trabalho e aumento de salário. E nesse 13 de julho está orgulhoso de si mesmo por ter deixado de fazer parte da massa manipulada e, ao invés de assistir a final da Copa – com a seleção brasileira em campo – vai lutar por seus direitos.

São Paulo está verde e amarela, mas Robson age com naturalidade. Tenta não focar na bandeira nacional exposta na entrada dos bancos ou sendo carregada pela garotinha. Desvia a atenção para não despertar as emoções que todo esse cenário pode estimular. “Patriotismo de verdade é lutar por um país melhor e não dar ibope a esse circo”, pensa o jovem motorista, fazendo referência à política do pão e circo, tão eficaz desde a Roma Antiga.

Robson pega seu material de protesto e se dirige até o ponto de encontro dos motoristas manifestantes. Lá, retira as cartolinas amassadas da mochila e pensa no que escreverá nelas, enquanto recebe uma advertência do companheiro: “Que isso mano? Cartaz verde e amarelo? Tá a favor da Copa do Mundo é?”. Robson se defende, afirmando que eram as únicas cores disponíveis.

O motorista pega o canetão e escreve: “Brasil na Copa e o povo na fossa”, um tanto radical, mas era essa a impressão que deveria passar. Na TV, no pátio do terminal de ônibus, a seleção brasileira dava significado à toda aquela tensão nas ruas: jogava bem, mas gol que é bom, nada. Robson evitava acompanhar o jogo, desviando o olhar para o pão com mortadela e para o povão reunido.

Na hora de sair para o protesto na 23 de Maio, os motoristas já estão bem apreensivos. Ninguém sabe ao certo se é pelo manifesto ou se pelo jogo. Já na rua, a categoria se manifesta repleta de cartazes hostis em relação à política, ao governo e, claro, à Copa do Mundo. Um pouco afastado da multidão, Robson passa em frente a uma banca de jornal e ouve o grito de gol. Disfarçadamente para e assiste ao replay.

Os manifestantes seguem firmes e fortes. Mas um cinegrafista avista o jovem parado e quando Robson se vira, percebe que está sendo filmado. Fica orgulhoso de seu cartaz e de representar sua categoria. Isso, claro, se o cinegrafista não tivesse dado close na parte de cima da cartolina verde. “Brasil na Copa” foi a mensagem que a TV transmitiu. O restante, bom, não existe restante.

E assim Robson, coitado, protagoniza o sentimento da maioria dos brasileiros em ano de Copa no Terceiro Mundo: Torcer pela conquista do Hexa ou manter a postura contrária ao trilhão gasto com obras desnecessárias e enfatizar a morte dos oito operários nas obras dos estádios? Eis a questão!


Comentários

  1. É a grande dúvida que paira. O relato é tão real quanto a realidade. Esse sentimento de insegurança irá persistir até as eleições deste ano, que prometem ser bem diferentes do que estamos acostumados... ou não.

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    1. Confesso, Emílio, que tenho tido dificuldade em torcer pelo Brasil, dentre motivos principais, até pela atuação do time que não me desperta muita emoção. Mas meu maior medo é que a seleção brasileira ganhe, a Dilma vença e tudo continue igual :/

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