Dúvida de 2014: Torcer pelo Hexa ou protestar?
http://on.fb.me/SxKknU |
Robson
está animado por participar da manifestação dos motoristas de ônibus,
reivindicando melhores condições de trabalho e aumento de salário. E nesse 13
de julho está orgulhoso de si mesmo por ter deixado de fazer parte da massa
manipulada e, ao invés de assistir a final da Copa – com a seleção brasileira
em campo – vai lutar por seus direitos.
São
Paulo está verde e amarela, mas Robson age com naturalidade. Tenta não focar na
bandeira nacional exposta na entrada dos bancos ou sendo carregada pela
garotinha. Desvia a atenção para não despertar as emoções que todo esse cenário
pode estimular. “Patriotismo de verdade é lutar por um país melhor e não dar
ibope a esse circo”, pensa o jovem motorista, fazendo referência à política do
pão e circo, tão eficaz desde a Roma Antiga.
Robson
pega seu material de protesto e se dirige até o ponto de encontro dos
motoristas manifestantes. Lá, retira as cartolinas amassadas da mochila e pensa
no que escreverá nelas, enquanto recebe uma advertência do companheiro: “Que
isso mano? Cartaz verde e amarelo? Tá a favor da Copa do Mundo é?”. Robson se
defende, afirmando que eram as únicas cores disponíveis.
O
motorista pega o canetão e escreve: “Brasil na Copa e o povo na fossa”, um
tanto radical, mas era essa a impressão que deveria passar. Na TV, no pátio do
terminal de ônibus, a seleção brasileira dava significado à toda aquela tensão
nas ruas: jogava bem, mas gol que é bom, nada. Robson evitava acompanhar o
jogo, desviando o olhar para o pão com mortadela e para o povão reunido.
Na
hora de sair para o protesto na 23 de Maio, os motoristas já estão bem
apreensivos. Ninguém sabe ao certo se é pelo manifesto ou se pelo jogo. Já na
rua, a categoria se manifesta repleta de cartazes hostis em relação à política,
ao governo e, claro, à Copa do Mundo. Um pouco afastado da multidão, Robson
passa em frente a uma banca de jornal e ouve o grito de gol. Disfarçadamente
para e assiste ao replay.
Os
manifestantes seguem firmes e fortes. Mas um cinegrafista avista o jovem parado
e quando Robson se vira, percebe que está sendo filmado. Fica orgulhoso de seu
cartaz e de representar sua categoria. Isso, claro, se o cinegrafista não
tivesse dado close na parte de cima da cartolina verde. “Brasil na Copa” foi a
mensagem que a TV transmitiu. O restante, bom, não existe restante.
E
assim Robson, coitado, protagoniza o sentimento da maioria dos brasileiros em
ano de Copa no Terceiro Mundo: Torcer pela conquista do Hexa ou manter a
postura contrária ao trilhão gasto com obras desnecessárias e enfatizar a
morte dos oito operários nas obras dos estádios? Eis a questão!
É a grande dúvida que paira. O relato é tão real quanto a realidade. Esse sentimento de insegurança irá persistir até as eleições deste ano, que prometem ser bem diferentes do que estamos acostumados... ou não.
ResponderExcluirConfesso, Emílio, que tenho tido dificuldade em torcer pelo Brasil, dentre motivos principais, até pela atuação do time que não me desperta muita emoção. Mas meu maior medo é que a seleção brasileira ganhe, a Dilma vença e tudo continue igual :/
Excluir