Em tempos de eleição
Antonio fazia uma caminhada pela calçada de seu
bairro, quando avistou vários cavaletes de propaganda política na esquina
seguinte. Decidiu dar uma parada na lanchonete. Já sentado, começou a observar
os políticos.
Homens brancos, de terno, sorridentes. Alguns
dos rostos já lhe eram familiar devido à insistência em aparecer em todas as
esquinas, em santinhos e na televisão. Antonio se perguntou se algum deles
sentia vergonha de ser político.
Afinal, andar com a cara estampada por aí,
representando uma classe tão famosa pela desonestidade e incompetência não
parece nada agradável. “A não ser que o dinheiro compense”.
Para Antonio, político é uma ofensa. “Tanto faz
chamar de ladrão ou de político”. Sentiu vergonha alheia por aqueles homens de
dentes brancos, que nem na aparência faziam questão de representar o povo. “Imagina
na prática”.
Formado em medicina, Antonio nunca teve muito
tempo para prestar atenção em política. Sabia pouco sobre o sistema democrático
brasileiro, representatividade e o caramba a quatro.
Seus votos sempre foram baseados nas pesquisas
de opinião antecedentes às eleições. Conhecia o Ibope e o Vox Populi. Mesmo
assim, várias vezes discordou dos resultados apresentados, mas acreditava que
não era possível tanta gente estar errada.
Ainda observando os cavaletes, Antonio
questionou de que forma a população poderia identificar os candidatos honestos.
“Com certeza não por essas imagens tão distantes, inconvenientes e genéricas”. Notou
que até as poses deles eram idênticas.
O jovem médico terminou seu milk-shake, pediu a
conta e focou em seus compromissos, sempre urgentes. “Porque estou perdendo meu
tempo observando esses hipócritas?”
Levantou-se e continuou sua caminhada. Amassou o
santinho que tinha em mãos e o jogou no chão, logo após pensar: “Não faz
diferença quem ganha a eleição, pois o jogo é que é sujo”.
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