A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio



O jornalismo brasileiro possui ressalvas em divulgar casos de suicídio. A maioria dos jornais, incluindo todas as plataformas, prefere omitir quaisquer informações a respeito de pessoas que tentam ou conseguem tirar a própria vida, a não ser que seja alguma personalidade. O objetivo dessa atitude coletiva é respeitar o indivíduo e os familiares e, principalmente, evitar o incentivo à disseminação do suicídio.

Um relatório inédito da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado no último dia 4 de setembro, revelou que a cada 40 segundos, uma pessoa no mundo comete suicídio. É um dado assustador, mas importante para trazer à tona um problema pouco comentado no cotidiano dos noticiários. De fato, a veiculação de suicídios poderia incentivar a prática, mas e a omissão?

O Brasil é o 8º país entre as nações com maior número de suicídio. No ano de 2012, o país registrou 11.821 mortes por suicídio, sendo 9.918 de homens e 2.623 de mulheres, uma taxa de 6% para cada 100 mil habitantes. A nação com mais mortes é a Índia (258 mil óbitos), seguida de China (120,7 mil), EUA (43 mil), Rússia (31 mil), Japão (29 mil), Coreia do Sul (17 mil) e Paquistão (13 mil).

A depressão é indicada como um dos principais fatores de incentivo ao suicídio. Justamente uma doença silenciosa e subjetiva, que pode ter sintomas não muito evidentes para além das próprias vítimas. Mas será que o modelo atual de sociedade não tem contribuído para a existência de tantas pessoas depressivas e cansadas de viver?

O apego à autoimagem e o individualismo estimulam, cada vez mais, a tendência humana de cultivar o excesso de obrigações, jornadas de trabalho e estudo intensivas, a ceder à pressões e exigências sociais e a utilizar abusivamente a tecnologia. Talvez olhar demais para si mesmo e nunca estar satisfeito com a própria realidade sejam fatores que incentivem o descontentamento com a vida.

As redes sociais são provas cabais de como atualmente as pessoas têm necessidade de se manter em evidência e mostrar o quanto são felizes em todos os âmbitos de suas vidas. As plásticas recorrentes demonstram que é preciso ser jovem e belo e sempre. O mercado de trabalho não perdoa quem não se entrega totalmente. As melhores universidades aceitam apenas os realmente bons.

Esse modelo de vida está presente em diversos países do mundo e, quanto mais desenvolvido, mais competitivo. Não é a toa que o estudo da OMS aponta países europeus e asiáticos como aqueles com mais índices de suicídio. Talvez até a ausência de problemas, causas pelas quais lutar, estejam esvaziando o propósito da vida. A falta de equilíbrio e de interesse pelos problemas coletivos resulta nessa realidade.

E o jornalismo, tão receoso em informar sobre suicídio, tem tentado coibir essa prática. Todavia o silêncio também evita que os sintomas de uma depressão, por exemplo, sejam percebidos por amigos e familiares e, consequentemente não haja tratamento adequado em tempo hábil. Assim como deixam de existir políticas públicas e debates para compreender a causa e o efeito de tantos falecimentos autoinfligidos nessa nova sociedade.

Esse assunto é mais uma das dualidades do jornalismo, que esbarra na ausência de estudos relacionados aos efeitos que um informação sobre suicídio pode gerar. E, por não se saber como lidar com assunto tão delicado, optou-se pelo silêncio. Talvez o fato de uma celebridade tirar a própria vida, como ocorreu recentemente com Robin Williams, possa ser usado como alerta. Mas, por enquanto, não há como afirmar que esse seja um método eficaz de prevenção.


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