Redução da maioridade penal: "Pra quem vive na guerra a paz nunca existiu"


A redução da maioridade penal resolve o problema da criminalidade tanto quanto defender o aborto para diminuir a quantidade de pessoas no mundo. Ou seja, nada. Apenas encobre uma realidade trágica, em que é mais fácil punir erroneamente pessoas indefesas em vez de conscientizar, de melhorar a qualidade de vida e o acesso à educação e à saúde, que são a base da existência de tanta violência.
Àqueles que defendem a redução da maioridade penal para 16 anos não frequentam o Brasil. Desconhecem sociologia e nunca se ocuparam avaliando as razões que levam jovens a cometer crimes. Quem só tem contato com esses adolescentes no momento em que está sendo assaltado, certamente tem motivos para defender essa medida burra e assustadora.
Mas convido estes e àqueles que estão em dúvida sobre a medida, para analisarem a realidade da maioria desses jovens. Muitos moram em uma favela, em uma casa (ou barraco) pouco ou nada confortável, vivem em um ambiente hostil e amedrontador, são pobres, alguns miseráveis, não possuem uma base familiar estruturada e não possuem uma educação que os faça raciocinar e debater esse sistema.
Acrescente à isso, o exemplo diário de que ser criminoso compensa mais do que viver honestamente. A constatação tem razões óbvias: "minha mãe trabalhou a vida toda de modo honesto e hoje só tem doenças, muita pobreza e nem existe para a sociedade. Já àquele cara que iniciou como "avião"* do tráfico, hoje comanda a favela e aperta a mão de muito político por aí". Ou: “os traficantes protegem mais do que a polícia”.
Agora pense, se durante toda sua infância você tivesse convivido com tanta inversão de valores, visto mais maus do que bons exemplos e a droga como um alívio, como se sentiria em relação ao restante da sociedade, aquela que esbanja dinheiro, saúde e felicidade? "Ah, mas existem programas de auxílio e a Educação no Brasil já melhorou muito", sim. Mas ainda há 3,6 milhões de crianças e jovens fora da escola, segundo dados do movimento da sociedade civil Todos pela Educação (TPE).
E parte dos que frequentam as aulas fazem isso em escolas decadentes, com professores desmotivados e até desorientados. Então não basta haver escolas para todos, é preciso que haja QUALIDADE NO ENSINO para todos. É urgente que esses adolescentes tenham a chance de conviver com bons exemplos para que não precisem seguir os maus. Para não se tornarem revoltados com causa.
Permitir que jovens de 16 anos já possam ser despejados em prisões, é não dar a eles a chance de conhecerem boas possibilidades, de se arrependerem. Se os presídios e cadeias no Brasil visassem a recuperação e a reinserção dos condenados, talvez a redução da maioridade até pudesse ser estudada. Mas aqui é resolver crimes sendo um desrespeitador dos direitos humanos.
E a culpa não seria das autoridades não. A tortura emocional e, muitas vezes, física dos jovens nas cadeias seria feita com as suas mãos. Com as mãos de uma sociedade que as lava em lugar de emprestá-las para ajudar. Nesse caso, alienar-se da realidade também deveria ser crime.
Portanto se você nunca viu de perto o sistema prisional brasileiro e nem acompanhou a vida de uma criança na favela ou em lugares ermos do país, não venha defender a redução da maioridade penal com argumentos vazios do tipo "isso acabaria com o problema da criminalidade". E quem resolve os problemas dessas crianças?
           
*Se não souber o significado de "avião", pesquise, já será um começo para entender melhor a vida dos menos favorecidos socialmente.

Leia também: Artigo do jornalista Leonardo Sakamoto 

Comentários

  1. O assunto é polêmico, muito mesmo. Tenho minha opinião, bem formada ou não. O fato é que acredito, sinceramente, que do jeito que estamos não podemos continuar. Um abraço

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  2. E qual sua opinião sobre isso? Compartilha! Abraço.

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