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A coisa voadora

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É 2020. A Copa do Mundo de 2014 foi um fiasco. O Brasil perdeu. E a Argentina ganhou. Dá para imaginar que agora os protestos significam tanto à nossa democracia quanto o voto obrigatório. A PM foi desmilitarizada. Mas infelizmente os drones não. Agora as manifestações ocorrem e nenhum PM se machuca. Os verdadeiros combatentes são governados por controle remoto. Bom, isso não mudou muito. O país virou um caos. A oposição ao cara que disse que deveríamos ir a pé aos estádios de futebol está no poder desde aquele ano. A boa notícia é que há menos motoqueiros no trânsito de São Paulo. Em compensação você pode estar andando na calçada e trombar com essa coisa voadora. O fato é que agora os drones já entregam comida, sedex, determinação judicial e até descarregam balas na população. Por isso, até as UPPs foram desativadas. Elas são um pouco assustadoras; as coisas voadoras. Estão por todos os lados. Parecem pernilongos gigantes. Mas estão na moda. Já compõem a lista de presentes do

Quem cresce é que quer casa

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Você começa a se perceber adulto quando, aos vinte e poucos anos, morar com seus pais passa a te incomodar indefinidamente. Se você é mulher, até mesmo o jeito como sua mãe faz comida é capaz de mudar seu humor pelo resto do dia. Sem falar em ter de adoçar o café, feito sem açúcar para evitar danos à saúde. Se for homem, a insistência de seu pai em pôr o lixo na rua diariamente, como se o mundo fosse acabar se não fizesse isso, te irrita mais do que o trânsito. “Afinal, qual o problema de o lixo se acumular por algumas semanas?”. Ou ter de ensiná-lo infinitamente como escanear e anexar um documento. Nessa fase, contrariar os pais já não tem mais tanta graça. Não se trata de falta de amor. É, na verdade, excesso. Aos vinte e poucos você já conhece bem os defeitos deles e, para preservar a boa convivência, entende que é melhor ter seu próprio canto. Aquele espaço conquistado que te fará parecer adulto, embora vá mesmo é fazê-lo ter a conduta de um vagabundo. Tipo a

Automedicação: um hábito brasileiro

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Reprodução/Google Dor de cabeça, cólica, dor de garganta, dor na coluna. Que brasileiro não possui em casa uma caixinha com medicamentos para esses incômodos, muitas vezes, recorrentes? Segundo pesquisa da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma), 80 milhões de brasileiros possuem o hábito de se automedicar. A atuação da maioria dos médicos no sistema público de saúde é dessas em que até uma dor no pé pode ser virose. Os enfermeiros tendem a ter uma postura muito mais humana e preocupada com o paciente, enquanto alguns médicos sequer olham nos olhos dos enfermos. Portanto a automedicação pode ser um dos reflexos dessa realidade. Adicionando a isso o acesso fácil a medicamentos básicos como analgésicos, anti-inflamatórios, descongestionantes, entre outros, e a longa espera para se conseguir uma consulta, é compreensível porque tantos brasileiros preferem decidir sozinhos quais remédios tomar.   De acordo com uma pesquisa do Hospital das Clínic

Linchamento por "pessoas de bem"?

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 Diva Suterio Ferreira, 46, mãe de Alailton O caso do jovem Alailton Ferreira, de 17 anos, morto, no domingo (6), após ser linchado por moradores do bairro Vista da Serra II, cidade de Serra, no Espírito Santo, assusta ainda mais por ter sido praticado por moradores que, outrora, seriam honestos, trabalhadores, pessoas “de bem”, mas aqui foram capazes de trazer à tona a crueldade comum aos psicopatas. Lembrando que a família de Alailton afirma que ele possuía distúrbios mentais. É inevitável encher os olhos de lágrima ao ver a imagem divulgada do jovem com o olhar assustado, sentado em meio aos moradores e, depois já com a cabeça ensanguentada. Então, quão deve ser o grau de frieza do indivíduo para machucar dessa forma?  Não há como saber quantos agrediram o garoto, acusado – sem confirmações – de ter estuprado uma menina de 10 anos e roubado uma moto. Porém, só de não ter sido apenas um morador, a história já se mostra mais perturbadora. Porquanto, evidentemente, se um

Carta aos jornalistas

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Ei, dá uma olhada pela janela. Perceba o que está acontecendo ali no hospital. Dá uma investigada nesses políticos aí. Grave uma matéria ou escreva sobre isso. Dá uma esmola pro mendigo, mas procure saber o motivo de ele estar nessa situação. Faça inglês, espanhol, mas não esquece o português não. Você vai precisar dele para, lá no SUS, conversar com a mãe que não sabe o que fazer com o filho autista. Faça graduação, especialização, intercâmbio, mestrado em comunicação. Dê aula, mas ensine a solidariedade e os direitos e deveres civis também. Fuja das drogas, mas não ignore os viciados. Senta lá, escuta eles, mesmo que você não entenda muita coisa, mas deixe as pessoas saberem que eles existem. Conheça seu país e outros pelo mundo, mas leve consigo seu senso de justiça. Seja parcial, não fique do lado dos ladrões... De dinheiro, de vidas. Conheça gente importante. Gente é importante, mesmo sem terno. Honre seus compromissos e cumpra os horários, mas não deixe de sorrir p

Aquela coisa de racismo

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Não existe racismo no Brasil. Ou talvez haja hipocrisia suficiente para mascarar a discriminação racial. O nosso modelo de racismo é típico de um país democrático pós- escravidão , em que os negros foram tratados como inferiores por séculos até que foram libertos e entregues à própria sorte. Da noite para o dia o escravo passou a ser gente e aqueles que não acreditassem nisso podiam ser legalmente punidos. Sendo assim, para autopreservação, muitos “brancos” foram obrigados a fingir o respeito e a consideração pelo negro. Diferindo, portanto, do racismo praticado nos Estados Unidos, em que brancos e negros impõem a si mesmos e as suas culturas em pé de igualdade. Dos brasileiros, 50,7% são negros, de acordo com o Censo do IBGE de 2010, ou seja, mais da metade da população se autoconsidera parda ou negra (ops, preta). Mais exatamente: dessa metade, apenas 15 milhões se declaram pretos, enquanto 82 milhões se classificam como pardos. Será que esses dados não encobrem certa

O que a polêmica envolvendo Sheherazade diz sobre direita e esquerda?

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Nada me deixa mais intrigada do que ver brasileiros se intitulando “de esquerda” ou “de direita”. Quando ouço essa frase prefiro acreditar que se trata de habilidades futebolísticas, pois em um Brasil possuidor de uma política tão precária e corrupta - assim representada em todos os partidos políticos - só consigo deduzir que há muitos pseudo-intelectuais andando por aí. O caso da âncora do jornal SBT Brasil, Rachel Sheherazade, é um excelente demonstrativo do quão ignorante ainda é boa parcela da nossa população. Ao opinar sobre o caso do jovem, com ficha criminal, amarrado nu a um poste como retaliação por seus crimes, a jornalista estava expressando um palpite pessoal, questionável sim, todavia incapaz de representar ideologias políticas. Quem ainda defende essas duas classificações como se cada atitude representasse um lado político, precisa estudar um pouco mais a história política brasileira e a real validade de ambos os termos “esquerda/direita”. Com a consciência