Automedicação: um hábito brasileiro
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Dor de cabeça, cólica,
dor de garganta, dor na coluna. Que brasileiro não possui em casa uma caixinha
com medicamentos para esses incômodos, muitas vezes, recorrentes? Segundo pesquisa da Associação Brasileira das Indústrias
Farmacêuticas (Abifarma), 80 milhões de brasileiros possuem o hábito de se
automedicar.
A atuação da maioria dos médicos no sistema público de saúde é dessas em
que até uma dor no pé pode ser virose. Os enfermeiros tendem a ter uma postura
muito mais humana e preocupada com o paciente, enquanto alguns médicos sequer
olham nos olhos dos enfermos. Portanto a automedicação pode ser um dos reflexos dessa realidade.
Adicionando a isso o
acesso fácil a medicamentos básicos como analgésicos, anti-inflamatórios, descongestionantes, entre outros, e a longa espera para se conseguir uma consulta, é
compreensível porque tantos brasileiros preferem decidir sozinhos quais remédios
tomar.
De acordo com uma
pesquisa do Hospital das Clínicas de São Paulo, a dor crônica (dor com duração
superior a seis meses) atrapalha a rotina de 76% dos 800 brasileiros entrevistados
em 11 capitais. A dor ser constante para tantos é normal ou o modelo da nossa
medicina – que, ao invés de prevenir a enfermidade, conhecendo suas causas,
apenas trata a doença quando ela se apresenta – contribui para esse quadro?
A estudante de medicina,
Cintia Santos Cunha, optou por cursar medicina em Cuba. Segundo ela, devido ao
caráter dessa ciência por lá. Cintia explica, em uma entrevista para a UNEafroBrasil (vídeo abaixo), que a medicina cubana é mais humanitária e os médicos procuram
ouvir, consultar e diagnosticar o paciente antes mesmo de utilizar a tecnologia
disponível para exames mais detalhados.
No Brasil, tão sério quanto o uso indiscriminado da
automedicação é o conceito cultural de que apenas fármacos podem solucionar a
enfermidade; sentir qualquer dor é inaceitável e ainda prestar atenção demais
na doença sem questionar suas possíveis causas. Quando os pacientes forem
esclarecidos sobre a razão dos sintomas e os métodos para evitar o
surgimento da dor ou doença, teremos uma população mais saudável.
Mais do que isso, os profissionais brasileiros precisam
passar a considerar outros métodos para o tratamento de dores e doenças, como a
indicação de plantas e ervas, medicina alternativa, além de mudanças alimentares e exercícios físicos, para, só depois, nos casos irremediáveis, assinar uma
receita a ser entregue na farmácia. Afinal, remédio também é droga.
Do mesmo modo, os pacientes têm de se conscientizar dos riscos e efeitos da
automedicação, que envolve dependência, surgimento de outras enfermidades, reações
alérgicas, resistência imunológica a determinados compostos, retorno de
doenças erroneamente tratadas e intoxicação.
Os resultados dessas mudanças seriam: menos filas no
Sistema Único de Saúde (SUS), menos consultas particulares e menos medicamentos
sendo vendidos. Consequentemente menos pessoas doentes significa mais trabalhadores
na ativa. E, para os defensores do governo, trabalhadores rendem mais aos cofres públicos do que remédios sendo
comercializados.
Portanto o caminho para uma saúde pública mais eficaz passa também pelo entendimento de que o sistema e os hábitos precisam ser mudados simultaneamente, pois a melhor parte de se alcançar um nível de saúde eficaz e de qualidade é, justa e ironicamente, não precisar utilizá-la.
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