Luto no Facebook


Confesso a minha dificuldade em compreender as pessoas que compartilham seus lutos no Facebook. Talvez eu seja antiquada, mas sou de uma época em que certos sofrimentos precisavam ser sentidos em silêncio, especialmente a morte de um familiar ou amigo. Mas em uma era em que sofrer é inaceitável, a não ser que a sua dor seja digna de compaixão e respeito unânimes – como só a morte pode realmente ser – o luto é justamente a única dor com permissão para ser divulgada. Quanta ironia.
                        
Uma prática que nos estimula a compartilhar detalhes das nossas vidas com pessoas que conhecemos pouco ou sequer conhecemos. E essa atitude influencia muitos a anunciarem também as tristezas da vida. Não há problema nenhum nisso quando se trata de determinados momentos ruins, mas o que se espera de uma pessoa enlutada é luto. E luto é sofrer uma dor tão intensa que é capaz até de nos tirar de órbita, mas não do Facebook?

O significado do luto é o respeito à morte, ao silêncio provocado por uma perda repentina e indesejada. Mas aí sua mãe falece e você tem estômago para fazer postagens na rede social? Receber o consolo de familiares e amigos com quem você divide a vida é uma coisa, porém querer dividir imediatamente esse sofrimento com os seus mil e tantos amigos virtuais é, no mínimo, desnecessário. No máximo, carência e falta de maturidade.

Sentir a dor de uma perda não é masoquismo, é humanidade. Dar um tempo do mundo para sofrer não vai te tornar fraco ou infeliz, pelo contrário, ser adulto é se fortalecer com a dor. Infelicidade é perder alguém que você ama e ser incapaz de lhe entregar alguns dias de pura tristeza e percepção da ausência. O mundo vai continuar rodando e, provavelmente, ninguém sentirá, de fato, a falta das suas postagens. Mas algumas dores precisam ser profundamente sentidas.



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