As creches subestimam as crianças?


Tanto quanto as escolas brasileiras não correspondem às necessidades e à capacidade de seus alunos, as creches também não possibilitam um desenvolvimento muito amplo de seus pequenos. Se o intuito é preparar as crianças para um ensino medíocre, as creches têm cumprido sua função. Uma pena, já que subestimar o potencial dos mais novos é um tremendo retrocesso.

Na França, as crianças com idade a partir de quatro anos já têm aulas de sociologia e filosofia. Pode até parecer um exagero, mas é positivamente assustador descobrir o quanto as crianças já têm um conceito formado do que é o mundo e o que são os adultos.

Questionados (em um programa exibido em um canal fechado), sobre o que é ter liberdade, os pequenos disseram que ser adulto é ser livre. Mas ao longo do debate, muito bem estimulado pela professora, eles reavaliaram suas respostas. Muitos chegaram à conclusão pensativa de que seus pais não eram livres porque tinham de trabalhar para conseguir dinheiro para “comprar as coisas”.

Para os adultos, a liberdade é só mais uma utopia, então será mais saudável que as crianças tenham essa consciência desde pequenos? Sim, quem sabe, dessa forma, poderão aproveitar melhor a infância, sem a ânsia comum de crescer para ser livre. Fazê-los compreender que toda idade tem suas limitações, os fará desejar menos a idade adulta, afinal ela chegará de todo jeito.

Da mesma forma, abrir mão das histórias repetitivas de contos de fadas – que servem apenas para o reforço de estereótipos sociais – é outra ideia que deveria ser aplicada já nas creches. Sim, as crianças de hoje também precisam de história, contos e magia. Isso não deve mudar. Mas a defasagem está em enredos que excedem na irrealidade.

Para se ter uma ideia da ineficácia dessas histórias na concentração e interesse infantis, ao participar de uma aula de leitura sobre o livro “Branca de Neve’, apenas duas ou três crianças prestavam atenção ao que estava sendo lido. Em uma sala de 13 alunos. As crianças só voltaram a se interessar pela aula quando a professora iniciou o jogo da memória. E por que?

Simples: a brincadeira desperta curiosidade, concentração, participação. E é isso que as crianças querem hoje, participar, interagir. Eles gostam de ser questionados sobre o que pensam, embora sejam realmente carentes dessa prática. Os alunos são considerados espertos, mas só por suas molecagens e não por seu potencial de pensar.

Inibidos do raciocínio desde cedo, os pequenos servirão bem a um sistema de ensino ultrapassado. Se, ao contrário, forem estimulados a pensar sobre a vida, a realidade, a sociedade – obviamente de uma forma infantil, “de brincadeira” – jamais deixarão de ter esse hábito. Serão seres que se autoconhecem, que compreendem a atitude de seus pais, que respeitam o próximo, mas que lutarão por algo melhor para a humanidade.

As crianças não querem ter sua inteligência desperdiçada, dividindo brinquedos quebrados ou apenas praticando esportes. Elas precisam ouvir e ler histórias empolgantes e participar de brincadeiras que estimulem seu intelecto. Querem, definitivamente, brincar aprendendo e falar para serem ouvidas. Enfim, investir na arte de pensar é um grande desafio para o sistema de ensino infantil.



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