O Evangelho e a Comunicação



“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). Esse versículo tem sido levado ao pé da letra por muitos religiosos – católicos ou evangélicos – no Brasil, que possuem programas em emissoras de rádio e TV, dos quais se utilizam para “pregar” o evangelho a todas as pessoas. Com isso, no entanto, acabam por comercializar aquilo que deveria ser sagrado e revelado de modo espiritual.

As programações evangélicas estão presentes nas principais emissoras de TV aberta do país, dentre elas: Record, RedeTV!, Band, Globo e Cultura, que juntas, em 2011 somaram 64 horas e 45 minutos de transmissão. Enquanto os programas católicos costumam ser exibidos em canais exclusivos como Rede Vida, TV Aparecida e Canção Nova.

Sob o pretexto de estarem disseminando a palavra de Deus, os apresentadores “missionários” estão cada vez mais carismáticos, muito bem equipados em seus programas e com uma quantidade ascendente de ouvintes e telespectadores – já que, de acordo com dados do Ibope Mídia, no primeiro semestre de 2010, cerca de 146,29 mil pessoas assistiram ao gênero religioso (Revista Imprensa - Jan/Fev 2011 - edição nº 264).

Mas o que se vê, ao contrário do anúncio espiritual do evangelho, são homens e mulheres muito apresentáveis e com discursos prontos – semelhantes à encenações artísticas – falando sim de Deus e da Bíblia, ao mesmo tempo, porém, em que permitem que os fiéis louvem mais a eles, interlocutores, do que ao Criador.

Honestamente, desconfio das intenções de qualquer assunto que precise ser amplamente divulgado, pois isso me lembra audiência que automaticamente me remete a lucro. Se o objetivo é disseminar a Palavra de Deus, então isso deveria ser feito de modo totalmente gratuito e sem a necessidade de “conquistar” o maior número possível de fiéis, já que, na verdade apenas Deus tem o poder de converter.

No Brasil, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de junho 2012, 123,2 milhões de católicos e 42,3 milhões de evangélicos, somando 165,5 milhões de fiéis que podem ser iscas para a audiência de muitos “missionários da fé” bastante interessados em manter suas viagens, suas mansões e carros do ano. São estes mesmos que fazem da missão um emprego e pedem dinheiro em nome de Deus para seus seguidores que mal dão conta das próprias dívidas. É preciso muita ingenuidade para não notar incoerências nesse cenário.

Deve haver sim os bem-intencionados, aqueles com o propósito real de evangelizar, ainda assim, essa não deveria ser uma função baseada em populismo e comércio, afinal, a graça de Deus é revelada a quem ele quer e não pela vontade do homem de converter seu próximo. Aconselho esses apresentadores a tomarem cuidado porque, como o diz o ditado: “de boa intenção o inferno está cheio”, imagina de má.

*Com informações da revista Imprensa Jan/Fev 2011

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