“Pensamos que a África é um continente de fome e miséria, e que há leões andando soltos pelas ruas...”
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Andreza Galiego - Como você vê a
burocracia brasileira a respeito de viagens internacionais? E a africana?
Carla da Silva - Eu não enfrentei muita burocracia para obter a
documentação necessária da viagem, mesmo porque o Brasil e a Àfrica do Sul têm
um acordo diplomático na concessão de vistos para visitantes durante o período
de três meses. No entanto, por causa de um erro da contagem de dias do meu
visto, saí da África do Sul com uma multa a ser paga na embaixada Sul Africana
aqui no Brasil, além de uma bronca da controladora de imigração do aeroporto de
Johanesburgo.
AG - Como foi sua recepção em
Pretória?
CS - Para aumentar a adrenalina de estar em um país desconhecido (risos),
o mentor do programa e organizador da viagem, optou por não me dar detalhes
sobre minha recepção no aeroporto. Ele apenas me disse: “Segue o fluxo!”. Foi o
que fiz. Acompanhei as pessoas que saíram do avião, passei pela imigração,
peguei minhas malas e segui a palavra “EXIT” (risos).
Mas
chegou um ponto em que todos encontraram quem procuravam, menos eu. Assustada,
dei aquela olhada ao redor e vi um casal segurando uma placa com meu nome, sem
muitas alternativas cheguei ao casal e disse: “I’m Carol”.
Eles
me perguntaram se eu era do Brasil e pediram que os acompanhasse. Assim eu fui.
Não tinha a menor ideia de quem eram aquelas pessoas, para onde estávamos indo
e, em alguns momentos, nem o que estavam falando.
Durante
todo o caminho conversaram e tentaram ser amigáveis me pagando até um sorvete
do Mc Donald’s (Viva a globalização!).
Chegamos
ao apartamento, onde eu passaria minha estadia, e então encontrei a única
pessoa que conhecia naquelas terras: o mentor do programa. Foi um alívio!
Alívio que logo foi substituído por uma indignação: Eles começaram a conversar
em português! Fiquei realmente brava, embora rindo bastante. Mas essa eu nunca
mais esqueço! (risos).
AG - O fato de você, até então, não
ser fluente no inglês, provocou alguma situação embaraçosa ou engraçada?
CS - Algumas. Por exemplo, no dia em que pedi um frango em um estabelecimento
de fast food e o atendente me deu um bem
apimentado, pois eu cheguei e só apontei que queria aquele. Claro que não
consegui comer (risos).
AG - Qual a imagem que os africanos
têm do Brasil?
CS - Eles assistem muita novela da TV Globo, por isso enxergam o
carnaval como o acontecimento mais importante do Brasil, e me pediam para
sambar e ensiná-los a sambar também. Cantaram até a música do Michel Telo [“Ai
se eu te pego”]. De fato, fiquei bem triste por ainda termos essa imagem, mas a
recíproca é verdadeira, pois pensamos que a África é um continente de fome e
miséria, que têm leões andando soltos pelas ruas. Sinal de que precisamos nos
conhecer melhor e não somente através da TV.
AG - Você acredita que essa visão se
dá pelo fato de a África do Sul ser bastante influenciada pela cultura
norte-americana ou por simples desconhecimento?
CS - A África do Sul não é influenciada pela cultura norte-americana
apenas. Na verdade somos muito mais do que eles. O problema é a tal da mídia,
que mostra o que dá audiência como a fome e o Michel Teló.
AG - Como funciona o sistema
estudantil da escola em que estudou lá?
CS - Os sul-africanos têm quatro férias anuais de 15 dias, e não
gostaram muito do sistema brasileiro por ser muito tempo estudando sem pausa.
Mas fiquei admirada com a estrutura de muitas escolas da Africa do Sul,
principalmente os colegiais. São sistemas de período integral e com o
desenvolvimento de áreas culturais e esportivas em conjunto com as matérias
convencionais. Além do que, já no colegial é disponibilizado um curso técnico
na área profissional que o estudante pretende atuar. Mas eu não participei
deste sistema porque estudei em uma escola particular de inglês apenas.
AG - Você acredita que a UFMS,
universidade em que estuda, deveria ter um sistema de apoio aos alunos que
fazem intercâmbio, como a possibilidade de realizar provas online?
CS - Realmente seria interessante, mas alguns cursos, como o meu, não têm
autorização do MEC para ser ministrado à distância.
AG - O principal motivo para sua
estadia em Pretória foi seu trabalho voluntário na orientação religiosa de
crianças e jovens. De fato, o que é o Ministério JUAD (Juniores e
Adolescentes)?
CS - O JUAD é um ministério internacional, interdenominacional e
voluntário, que desde 1994 ensina princípios cristãos a juniores e adolescentes
na faixa etária de 07 a
17 anos, independentemente de classe econômica, raça ou credo, por acreditar
que investir nas crianças é investir no futuro. Este ensino se dá através de atividades
criativas como música, teatro, dança, acampamentos e programas de
desenvolvimento social nas mais diversas áreas. O objetivo do JUAD é formar bons
cidadãos para nossa sociedade, pessoas pautadas por valores bíblicos, legais e
morais que implicam em um caráter saudável.
AG - Você é freqüentadora da igreja
Monte Sião. Qual a relação dela com o JUAD?
CS - Por ser um programa interdenominacional, atuante em quatro países
com 22 bases ao todo, o JUAD necessita que, em cada cidade onde é implantado, haja
uma estrutura que receba o programa e se comprometa em desenvolvê-lo com seriedade.
Em
Andradina [interior de São Paulo], atualmente, mais de 75% dos integrantes do
Ministério JUAD não são da igreja sede, mostrando que mesmo as pessoas não
frequentadoras desta denominação podem participar ou trabalhar voluntariamente.
AG - Já existe uma base do JUAD em Pretória. Quais foram
os resultados de seu trabalho, desenvolvido durante os três meses na cidade?
CS - O meu trabalho foi de reestruturação da base de Pretória. O JUAD
trabalha com técnicas de ensino organizadas em cartilhas e guias a serem
seguidas. Sempre são necessários ajustes para o bom desenvolvimento do trabalho,
e este foi meu papel por lá durante esses meses. Foi uma troca de experiências,
o que aumentou ainda mais no meu coração a paixão por este projeto e tenho
certeza de que também foi um incentivo para os lideres voluntários de Pretória.
AG - Você pretende ser juíza. No que
todo esse conhecimento adquirido vai influenciar na hora de julgar processos?
CS - Toda experiência influencia em qualquer decisão que tomamos. Com
certeza essa experiência ampliou a minha visão sobre muitas coisas e me trouxe
valores que vou carregar comigo em tudo, inclusive em minha profissão.
Carolzitaa :D
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