Cracolândia: O dia em que o Governo agiu, mas não resolveu
Claramente, a atitude do Governo do Estado de São Paulo em conjunto com a Polícia Militar de realizar uma “limpeza” na Cracolância - desde o dia 3 de janeiro - é drástica. Denominada de “Ação Integrada Centro Legal”, o ato tem intenção de combater o caos que se instalou na região central de São Paulo - ninguém sabe ao certo desde quando, mas que tem se intensificado na última década - em que centenas de pessoas passam os dias consumindo crack.
O Governo, depois de anos sendo espectador do teatro dramático composto por pessoas reais que mesmo sem amparo social não optaram pelo crime propriamente dito, (embora o uso e tráfico da droga sejam ilícitos), resolveu reagir. Como em um passe de mágica adquiriu recursos e fez algo para alterar a situação. Mesmo drástica, já é uma atitude inesperada, principalmente para os paulistanos que já se acostumaram com a circunstância. Inicialmente fui a favor das ações, especialmente porque as autoridades tiveram o cuidado de encaminhar dependentes à centros de tratamento e de prender traficantes. Entretanto, as últimas notícias trazem a informação inacreditável de que apenas meio quilo de crack havia sido apreendido até ontem (9), o equivalente ao consumo de um dia dos frequentadores do local.
A partir da notícia, o MP (Ministério Público) decidiu investigar os verdadeiros objetivos dessa atitude drástica. Não sei qual será o resultado do inquérito e nem se há um motivo obscuro para essas ações. O que sei é que a atitude não foi eficaz, pois apenas “espalhou” os dependentes do crack, para outras regiões de São Paulo. E isso me deixa a impressão de que a intenção de Prefeitura e Subprefeituras era “limpar” somente a Cracolândia, assim ninguém poderia alegar que a situação estava fora de controle. A mim, parece o mesmo que varrer a sujeira para baixo do tapete, a não ser pelo detalhe da sujeira se tratar de seres humanos.
Não consigo desvencilhar a tal “Ação Integrada Centro Legal” da iminente proximidade da Copa do Mundo. Após a ideia, no mínimo, audaciosa, do ex-presidente Lula, em trazer para cá um evento desse porte, a impressão que tenho é de que o Governo Federal está querendo urgentemente varrer muita sujeira para debaixo do tapete. Dessa forma, essa ação é só mais uma maneira impensada de se livrar dos problemas constantes que atingem nosso país.
Os freqüentadores da Cracolândia são cidadãos e possuem direitos como todo brasileiro e, embora haja muitos criminosos dentre os honestos, o Governo não pode agir de forma generalizada e desrespeitosa. Até o momento, não soube de agressões aos usuários e traficantes, mas quando se trata de polícia e bandido, seria muita ingenuidade achar que os policias apenas “conduziram” os pobre-coitados aos devidos lugares. Enfim, mesmo não fazendo apologia as drogas, sei que grande parte daquelas pessoas, especialmente as crianças, não teve chance de fazer outra coisa da vida.
O que me choca, é que há dezenas de crianças e jovens naquele local, pessoinhas que deveriam ser protegidas pela sociedade e não viver à margem dela. Mesmo assim, o Estado simplesmente as afasta do patrimônio público e, isso, de tão absurdo, parece irreal. Pode-se alegar que os adultos tenham livre arbítrio, só que esse argumento não serve para os brasileirinhos. Como um país que fecha os olhos para crianças que estão nascendo e morrendo pelo consumo de uma droga ilícita pode querer realizar eventos esportivos bilionários?
Sinceramente, tenho medo de que até 2014 a população brasileira tenha sido reduzida pela metade e que tenham sobrado apenas os ricaços, teoricamente mantenedores do país. Sim, foi uma ideia exagerada, porém com a maneira que o Brasil é conduzido, querendo resultados imediatos para problemas centenários, eu realmente não sei como ficará a população marginalizada até o fim de 2016. E tenho receio de viver para ver.
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