A Polícia injusta

      Já faz algum tempo que eu estava querendo comentar aqui no blog sobre o livro “Rota 66, a polícia que mata”, publicado em 1992 e escrito pelo jornalista Caco Barcellos. O livro retrata um assunto de importância pública para os paulistas: As atuações da Polícia Militar (PM) na cidade e no Estado de São Paulo.
      Caco Barcellos investigou as ações arbitrárias da PM, durante e pós Ditadura, dos 70 aos 90. Em 1975, Caco criou um Banco de Dados no qual continha dados de todos os supostos bandidos mortos pela PM, pessoas que nem sempre eram realmente bandidos e que quando podiam ser considerados criminosos quase nunca eram levados à delegacia, eram simplesmente mortos pelos PMs. Assassinados brutalmente na frente de familiares e conhecidos.
     Com o Banco de Dados, Caco Barcellos descobriu que as pessoas que os PMs mais matavam eram de baixa renda, com pouco ou nenhum estudo, pardos ou negros e, em sua maioria, jovens.
     Nesse Banco de Dados, ao final do livro, no ano de 1992, continha o perfil de 4.179 mortos pela PM e declarados desconhecidos pela mesma polícia. Mas Caco cita ainda, que o número das estatísticas oficiais eram bem maiores: entre 1970 e 1992 teriam sido assassinados pela PM, entre 7.500 e 8.000 pessoas. Nos primeiros meses de 92, policiais militares chegavam a matar quase quatro pessoas por dia.
     O motivo pelo qual demorei a escrever sobre o assunto é que apesar de ter achado de extrema importância, não acreditei que fosse uma situação atual, porém uma reportagem da revista Isto É (19/05/10), infelizmente me fez mudar de ideia.
     Segundo a reportagem, em 2009, a PM matou 524 pessoas em supostos confrontos, em São Paulo. De janeiro a março de 2010, a letalidade saltou 40,8%, se comparada ao primeiro trimestre de 2009.
     Ainda de acordo com a matéria, estudos internacionais indicam uma proporção de baixa dos dois lados – para cada policial assassinado em confronto, seria admissível que dez bandidos morressem - no ano passado essa proporção foi de um PM para 33. Ou seja, em São Paulo, o índice de morte, nesses casos, é mais que o triplo.
    Então, concluí que os dados que constam no livro Rota 66, infelizmente, não são retrógrados e nem passageiros. Relacionar esses números com o fato de a Polícia Militar ter herdado dos antecessores os mesmos princípios ditadores de “combater” o crime pode ter funcionado até os anos 90, entretanto continuar acreditando nisso vinte anos depois, é querer disfarçar um problema grave.
     Provavelmente o motivo de essa situação ser tão bem disfarçada pelas autoridades é o fato de essas vítimas serem da classe mais baixa da hierarquia atual, pessoas que não têm conhecimento de seus direitos ou não sabem por onde começar a reclamá-los ou ainda, temerem uma vingança dessa polícia.
     Dessa forma, não é difícil que esses dados sejam deixados de lado, pois é a palavra de pessoas com más condições financeiras (sem voz ativa no país) contra a palavra da corporação que tem a função de defender essa mesma população. Uma corporação por sinal, muito bem instruída de seus deveres, mas também sabedora de como manipular ocasiões para que estas se tornem favoráveis à PM.
      Por isso, acredito que um país só pode se tornar justo no momento em que a educação for o objetivo primordial da população e de seus governantes. Pena que o senso de justiça conste apenas numa minoria talvez incapaz de transformar o rumo dessa nação.

Comentários

  1. Olá Andreza!
    Puxa, muito obrigado pelas palavras em meu Blog. Fiquei lisonjeado. Espero que vcs tenham gostado da minha palestra. Lecionei ai em Três Lagoas 3 anos, fui Coordenador aí tb e hj fui sucedido pelo César. Uma experiência muito legal. Gostaria de ir mais pra AEMS, vou me esforçar pra isso. Um super beijo pra ti! Se cuida.

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