A apoteose de morar em outro país
A experiência de morar em outro país é
quase sempre alucinante, especialmente quando a outra nação é completamente
diferente da sua. As diferenças evidentes de clima, cultura e idioma realmente
mexem com a cabeça. Todas as referências anteriores não estão mais ao
alcance das mãos, e essa nova situação exerce grande influência sobre nós.
Sobretudo estimulando a humildade, afinal, você provavelmente está começando
uma vida do zero e, por um instante, volta a ser uma criança indefesa, apesar
de todas as experiências que já viveu.
Desde simples tarefas, como ir ao
supermercado ou ter de separar o lixo antes de se desfazer dele, até abrir uma
conta no banco usando outro idioma, tudo é novidade e precisa ser aprendido. E
aprender errando volta a ser algo recorrente mesmo que a adolescência já tenha
passado. Essa sensação é quase sempre desconfortável para quem já é adulto e
pensa já saber tudo na vida. E, é exatamente por isso, que a experiência de se
entregar a algo novo é tão valiosa. Só assim nos damos conta de que ainda não
somos nada, mas que todo conhecimento vivenciado sempre nos será útil de alguma
forma.
De repente a própria presença é só o que se
tem e o grande questionamento é se você é ou não uma boa companhia para si
mesmo. Você dá conta de lidar com as próprias frustrações, de chorar sem ter um
colo por perto, de se orgulhar das novas conquistas sem que haja alguém para te
admirar? Acredite, o equilíbrio emocional em uma nova realidade é o item mais importante
para a autopreservação. E a sensação de descobrir que você dá conta de si
próprio, mesmo nos dias mais difíceis, é, contraditoriamente, uma jornada para
perceber o quanto de amor e cuidado você pode dispensar ao próximo.
Talvez a maior lição de morar em outro país
seja a adaptação. Sua e dos outros. A possibilidade de conhecer pessoas de
outros lugares do mundo, que deixaram sua terra natal para encarar o mundo, do
mesmo modo que você. Eles se adaptaram e contribuem para que você também se
acomode e faça dessa nova realidade o seu lar. Seja por um tempo, seja para
sempre. Há tantas histórias inspiradoras por aí, tantos motivos para que esse
ou aquele indivíduo tenha saído de casa e cruzado fronteiras. E basta ter a mente
aberta para que o instinto capte as ondas de solidariedade mútua.
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