Um amor de fã

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Os fãs nunca foram tão próximos de seus ídolos. Nem tão apaixonados. Confesso que o fanatismo é algo que me intriga. Admiro algumas pessoas, normalmente por seu caráter e trabalho desempenhado, e tento acompanhar um pouco do que fazem, mas não venero ninguém. Gostaria muito de conhecer alguns pensadores e especialistas contemporâneos e poder contar-lhes a minha admiração e impressão a respeito dos assuntos sobre os quais discorrem e debatem em blogs, livros, vídeos e programas de TV. Mas em hipótese alguma eu diria a eles a seguinte frase: Te amo!

Só de ler a sentença já soa estranho não? E, exatamente por isso, não compreendo porque pessoas que veem seus ídolos uma única vez na vida podem pronunciar algo tão sério. Das duas uma: ou é muita carência ou amar se tornou pura superficialidade. Não interessa se o indivíduo acompanha diariamente a vida de uma personalidade, se sabe até quem são seus amigos, sua comida preferida ou o que gosta de fazer no tempo livre, isso não lhe dá base suficiente para amar alguém. Significa apenas uma coisa: você tem bastante tempo livre.

Sério, amar uma pessoa é mais do que acompanhar seu estilo de vida, ou pelo menos, deveria ser. Lá da onde eu venho amar é conviver, respeitar, conhecer profundamente, admirar e ter ciência dos defeitos do outro. No entanto, a base do amor ao ídolo é justamente a idolatria. A palavra, herdada dos radicais gregos eidolon + latreia, onde eidolon se traduz por "corpo", e latreia por "adoração", define o culto pelas aparências.* Dessa forma, quando um fã diz a seu ídolo que o ama, está, na verdade, confessando que idolatra aquilo que a pessoa aparenta.

Mas talvez o problema seja eu. De fato, tenho uma dificuldade absurda de dizer que amo alguém, seja família, amigos ou amores. O que dizer de pessoas com as quais não convivo? Mesmo assim, não pode ser normal encontrar um desconhecido – nesse caso, um conhecido seu que não faz ideia da sua existência – e dizer aquelas palavrinhas tão importantes. Frase que, muito provavelmente, você não tem dito nem aos seus pais. Talvez a melhor demonstração de afeto para os encontros entre fãs e ídolos seja mesmo essa: “Eu te adoro”. Ponto.

O fato é que a idolatria é contrária ao senso crítico. Na prática, possui um sentido vazio justamente por ser superficial. Portanto, ao esbarrar com seu ídolo na rua, por favor, diga-lhe, no máximo, que o adora. Assim você não parecerá tão alienado e desocupado. Ainda assim, lembre-se: seus amigos te amam, não adoram ou idolatram você, logo, para conquistar a amizade de alguém é preciso respeito, criticismo e honestidade mútuos. Enfim, tomara que a sociedade evolua ao ponto de a relação entre fã e ídolo ser mais de admiração do que de idolatria ou fanatismo.

*Fonte: Wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Idolatria


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