Que tal: bonita por natureza?
A verdade é que os
padrões sempre existiram para todos nós, mulheres e homens, mas talvez pela
nossa essência em querer agradar, sejamos mais suscetíveis às imposições. Há
poucos dias, noticiaram uma cirurgia capaz de proporcionar uma beleza mais
próxima do considerado ideal. A bichectomia. Trata-se de uma intervenção cirúrgica
para a retirada de um acúmulo de gordura da bochecha, a bola de bichat. Sem
ela, o rosto fica com a aparência mais fina. A moda tem atingido especialmente
mulheres entre 20 e 30 anos. A razão? As selfies de bochechas arredondadas não
ficam tão boas. Um detalhe importante: a cirurgia pode afetar os nervos e
causar paralisia facial.
Da mesma forma, a
pressão excessiva feita pelo espartilho no abdômen, refletia nos órgãos
internos e, consequentemente, no aumento da pressão venosa, incentivando o
aparecimento de varizes e, em casos extremos, trombose. Além de possíveis
efeitos negativos no diafragma e na respiração. A obviedade das duas adaptações
aos padrões é que os riscos são maiores que os benefícios. Nesses casos, o
normal seria questionar-se: prefiro ter uma bochecha redonda ou uma paralisia facial?
A resposta deveria ser evidente. Mas não é. E aí está a prova da deformação das
prioridades.
Parecer bonita é
terminantemente mais importante do que ser saudável, Andressa Urach e tantas outras famosas que o digam. A complexidade é a
percepção de uma beleza tão inatingível. Afinal, gastamos e sofremos para
ter a pele perfeita, mesmo assim, ainda aplicamos a maquiagem por cima para “ressaltar
os pontos fortes”. Um sinal da constante insatisfação. Uns praticam exercício
exageradamente, outros preferem a facilidade das cirurgias, outrem unem ambas
as possibilidades. Embora a saúde esteja sempre em segundo plano. E o que há de
errado na beleza natural? A simplicidade. Em tempos em que a ostentação do luxo
é supervalorizada, a singeleza é ignorada.
Tanto esforço em vão.
Frente a tanta perfeição, é justamente a diferença e a simplicidade que
provocam felizes sensações. Ao manter o cabelo natural, ao respeitar as medidas
do corpo, adquirindo roupas que se adéquam ao invés de transformar o corpo para
atender ao arquétipo, a mulher está se conscientizando de
seus defeitos. E por que isso não seria bonito? O processo de autoaceitação não
é fácil, depende de fatores psicológicos, experiência de vida, influências saudáveis.
Mas certamente o distanciamento dos padrões midiáticos, do apego à própria
imagem e o interesse por causas mais nobres podem facilitar essa mudança de
pensamento.
Ser belo por fora depende
automaticamente do interior. É mais fácil enxergar a aparência bonita quando a essência
também é agradável. Estar bem resolvido, é ser ciente dos defeitos que poderiam
ser melhorados com cirurgias, mas, por que? Para quem eu devo ser perfeito?
Afinal, aqueles que me amam, amam pelas minhas imperfeições também. E os
outros? Bom, os outros que tenham o trabalho de me conhecer, caso contrário, de
que me valerão suas opiniões? Prefiro a verdade de ser considerada feia
naturalmente à superficialidade do elogio baseado numa aparência fabricada.
A liberdade de mudar um
traço que incomoda é importante. Principalmente se a saúde for levada em conta
e se a real necessidade dessa alteração for profunda e internamente discutida.
A beleza externa é admirável, mas é com a interna que se convive. Que tal
trocarmos a imposição do cabelo liso, do corpo magro, da pele perfeita pelo
padrão do diferente? Aceitarmos a sarda, os pneuzinhos, os cachos, o nariz e a
bochecha grandes e nos incomodarmos mais com a ausência de conteúdo, de
objetivos, de preocupação com outras vidas? Sejamos lindamente naturais.
Sim, os homens admiram a
beleza, mas os de verdade, nunca nos impuseram ser bonecas de porcelana: lindas
e ocas. As imposições são nossas mesmo. Olhamos o cabelo lindo de uma, a pele
perfeita de outra, a magreza invejável daquela ali e, sem analisarmos os nossos
próprios pontos fortes, exigimos ter todas essas características, ao mesmo
tempo. E dá-se adeus ao corpo real, “bonito por natureza”. Quantas já perderam
a vida por extravagâncias em mesas de cirurgia? E o parceiro foi consultado? Se
esteve a favor, certamente convive com o remorso.
Crie um padrão próprio.
É simples: considere-se linda. Se concordarem bem, se não, amém. Uma foto pode
deixar qualquer um mais feio ou mais bonito, depende muito mais de técnicas de
fotografia, do que da aparência real. Portanto aprenda essas técnicas ao invés
de correr riscos desnecessários. Quando se olhar no espelho, repare apenas nos
pontos fortes. O resto está aí por alguma razão. Aposto que já admiraram algo
em você que você mesma julgava desagradável. Pois é, o bonito depende de quem
vê. Então opte por enxergar o naturalmente belo!
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