Prender para esconder
Por Gabriela Peres*
Favela, Maracanã, tráfico
de drogas, Cristo Redentor, aeroporto Santos Dumont, ônibus lotado, carro
importado. Realidades diferentes, sem novidade que agrade e consciência de que
tem alguém que pague.
Vivemos num fluxo de cegueira de gente que tenta ver, mas não vê nada.
Periferias, vielas, cortiços. Você deve estar pensando: "O que você tem
haver com isso?".
Um pouco, nada, quase nada ou quase tudo. Viver pobre, preso, no crime ou morto
virou a cultura dessas pessoas. Quem liga? Se
tivéssemos a capacidade de perceber quem morre, veríamos quem mata.
É a sociedade que mata, que “desurbaniza” essas pessoas. Mostramos aos nossos
filhos que existem crianças nascidas em famílias de pessoas viciadas e com
problemas reais? Será que mostramos a realidade na qual a grande maioria da
população brasileira vive? Sem brincadeiras, sem conto de fadas. Onde o único
príncipe encantado pelo qual podem esperar é o patrão que conhecem ainda na
adolescência.
Crianças precisam ajudar, senão trabalhando fora de casa, dentro, pois a mãe
fora está. As drogas são fatores reais de suas famílias. Crianças presenciam
pais alcoólatras, viciados em cocaína onde o acesso é na esquina. As roupas doadas
por ONGs, no pé, chinelo com remendas. O almoço repetido por vezes na escola
para compensar o próximo que pode demorar.
A fada da felicidade chega diferente em lugares que vemos como uma atração para estrangeiros. Ou em matérias do Jornal Nacional que trazem uma realidade cheia de rodeios. Ninguém quer ver esse sofrimento de perto, mas querem colocar na prisão os encontrados com uma arma na mão. Nenhuma pessoa em estado normal será a favor do crime ou do tráfico. Mas entender a dificuldade e ver de onde ela vem é essencial para uma discussão digna a respeito de um assunto que seria delicado, se não fosse tão real.
A fada da felicidade chega diferente em lugares que vemos como uma atração para estrangeiros. Ou em matérias do Jornal Nacional que trazem uma realidade cheia de rodeios. Ninguém quer ver esse sofrimento de perto, mas querem colocar na prisão os encontrados com uma arma na mão. Nenhuma pessoa em estado normal será a favor do crime ou do tráfico. Mas entender a dificuldade e ver de onde ela vem é essencial para uma discussão digna a respeito de um assunto que seria delicado, se não fosse tão real.
A raiz deste problema está em nós mesmos, na sociedade que cerca essas pessoas
tão miseráveis, tanto de uma vida digna – com bens materiais necessários para a
sobrevivência – quanto da oportunidade de ter conhecimento. De perceber coisas
que não são mostradas. Ter um livro para ler, uma professora para ensinar, um
caderno descente para escrever.
Um adolescente que entra para o crime sabe sim o que está fazendo, tem noção
das consequências de um roubo ou o que matar uma pessoa faz. A questão é o que
lhes foi ensinado. Quem são seus pais? O que seus pais aprenderam para poder
educá-lo? O que ele tem ao seu redor?
Qual a probabilidade de uma criança pobre ser alguém bem sucedido na vida? É
possível, mas para a maioria deles entrar para ajudar no tráfico, ou roubar uma
senhora na rua é mais fácil e “tá na mão”. Precisamos ter consciência de que se
hoje, sabemos o que é certo ou errado, se sabemos que devemos trabalhar para
conseguir algo que queremos e se sabemos que devemos respeitar nosso
semelhante, é porque alguém nos ensinou.
Da mesma forma que existem pessoas que não aprenderam como "serem
pessoas". Nascem em lugares onde a opção de fazer o certo é fraca. Não
aprenderam a ser fortes. Não foi sempre dito que essas pessoas não têm vez? A diferença
é particular, e cada um que faz.
Grandes exemplos de pessoas que tinham tudo para ir para o lado que tudo “vem
fácil”, e por algum motivo deram a volta por cima e fizeram diferença. Será que
todos encontram esses motivos? A pobreza
revolta, a dificuldade traz vingança, e a falta de oportunidades entristece.
E é por isso que, para que eu seja a favor da prisão de menores infratores para
que sejam responsáveis pelos seus atos aprovando a lei para diminuir a maior
idade penal, é importante que o mal seja cortado pela raiz.
A Fundação Casa "não existe", prender um menor não resolve, apenas
esconde o problema e tira da visão de quem prefere não enxergar. E isso não é
uma maneira digna de viver uma vida real. Afinal, que governo vive? Pra quem nasce na guerra, a paz não existe.
Criar atalhos não resolve, devem-se criar escolas e oportunidades de emprego
para essas pessoas. Qualificar nossa gente, para que nosso preconceito diminua
e possamos tirá-los da vida dura.
O governo prefere prender para se esconder
e passa a bola para a população que pouco tem informação.
A favor de prender nossos menores é o que escolheria a grande população, já
que o governo tem ciência da possível votação. O que o povo não percebe é que
quem deveria ser preso são aqueles no qual jogam o problema em suas mãos.
"Menos de cinco por cento dos caras do local são dedicados a alguma
atividade marginal e impressionam quando aparecem nos jornais, tapando a cara
com trapos, com uma Uzi na mão. Parecendo árabes, árabes do caos, sinto muito
"cumpádi", mas é burrice pensar que esses caras é que são os donos da
biografia já que a grande maioria daria um livro por dia, sobre arte,
honestidade e sacrifício. SACRIFÍCIO!, Arte, Honestidade e Sacrifício". (trecho
da música Hey Joe, do O Rappa).
Eu sonho com um país melhor, mas não acredito nele. Daí eu te pergunto: se você está sem trabalho, na pobreza e desesperado com seu filho chorando de fome e te oferecem um pino de cocaína para vender para o moço que já está esperando na esquina em troca de vinte reais, você não venderia? Aí é que está “mermão”, se você pode, porque eles não?
Eu sonho com um país melhor, mas não acredito nele. Daí eu te pergunto: se você está sem trabalho, na pobreza e desesperado com seu filho chorando de fome e te oferecem um pino de cocaína para vender para o moço que já está esperando na esquina em troca de vinte reais, você não venderia? Aí é que está “mermão”, se você pode, porque eles não?
*Gabriela Peres
estuda jornalismo na Universidade Paulista (UNIP), em Campinas. Sempre teve a
certeza de que jornalismo era a “sua profissão”. Crítica, exigente e sem papas
na língua, adora escrever sobre assuntos de utilidade pública. Não é fã de
repórteres e já negou trabalhos em assessoria de imprensa para não ter de tomar
partido. Sabe que falar o que pensa é arriscado, afinal nem todos entendem. “Fazer
o quê? Pensar é causar.”. É colunista no Jornal Metropolitano de Campinas, dona
do blog Nú e Crú e freelancer.
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