Onde está a diferença entre "presos políticos" e "políticos presos"?
Ver um político brasileiro corrupto julgado, condenado e
sendo preso causa um prazerzinho até nos menos politizados. O fato é que
imaginar a reação de um Dirceu às agruras da prisão faz parecer que vivemos em
um ambiente mais justo. A não ser por todos os condenados terem sido conduzidos
à detenção de avião e não de ônibus como seria com criminosos comuns; por serem
trancafiados individualmente em celas limpas e com muito mais conforto que
bandidos responsáveis por crimes muito menos graves e por alguns deles
cumprirem pena em regime semiaberto.
Enfim, apesar de tantas regalias, é preciso crer que a
justiça está sendo feita com base na Constituição e na apuração de todas as provas. Embora
militantes petistas afirmem que tudo se trata apenas de vingança e interesses
políticos, ou seja, na verdade sustentada pelo time da estrela o mensalão pode ter sido
implantado pela oposição. Todavia, é difícil definir qual oposição, pois é
sabido que no Brasil ela é mais parada que o trânsito de São Paulo. Então esse
argumento não serve.
Mas a principal questão dessa análise é
a seguinte: grupos dispostos a defender sua causa tornam o mundo mais injusto.
No caso dos militantes petistas, eles negam a existência de ações corruptas em
seu governo, mesmo tendo sido comprovado o esquema e seus culpados. Ao defenderem
cegamente suas alianças – atitude evidente no termo “preso político” – os
petistas apoiam a corrupção e dificultam a afirmação da democracia. Sendo
assim, os grupos avaliam as situações por um único ponto de vista: o próprio.
Esse é o pior mal das coligações, sejam elas quais forem,
políticas, ativistas, religiosas. Cito o PT, pois é a bola da vez, mas esse
tipo de comportamento pode ser aplicado em todos os outros modelos de alianças
por um objetivo em comum. E enquanto pensarmos a sociedade como grupos
distintos, haverá desigualdade. O maior ensinamento que podemos aprender no
cotidiano é que somos, antes de tudo, humanos, carentes e dependentes de
necessidades básicas.
Todos precisam de alimentação saudável, de moradia digna,
de lazer, de cultura, de saúde, de segurança. Seja rico, pobre, livre ou preso,
esses são requisitos primordiais para manter-se a saúde mental humana. Entretanto,
a sociedade se divide para defender os interesses de cada aliança, desviando a
atenção da importância da igualdade de diretos e deveres coletivos. Nesse exemplo, a
militância petista é uma amostra do quanto as divisões, inclusive por classes,
deturpam a realidade geral e coíbem uma democracia factual. E equivalente a essa há muitas outras por aí.
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