Oposição a vinda de médicos estrangeiros: nacionalismo ou xenofobia?

Jarbas Oliveira/Folha press

Importar médicos de Cuba ou de qualquer outro país é o ideal? Não. Ideal seria que no Brasil o acesso ao curso de medicina não fosse tão complexo; que a discrepância entre o ensino público e o privado não fosse tanta; que o atendimento na saúde pública fosse mais humanitário; que os médicos particulares não cobrassem tão caro por uma consulta. Mas o Brasil está bem longe de ser um país ideal, então há sim a necessidade da vinda de médicos estrangeiros para suprir as carências na área da saúde.

A atitude de alguns brasileiros em relação à chegada dos médicos cubanos, no último dia 26, foi vergonhosa e xenofóbica. Os profissionais foram hostilizados até por chamados “formadores de opinião”. Discordar de uma medida do governo federal para solucionar determinado problema é uma coisa, agora ofender a aparência e o comportamento de um cidadão estrangeiro devidamente qualificado, que vem ao Brasil para prestar um serviço, é discriminação.

Parte dessas pessoas que não apoia a vinda dos médicos cubanos, faz isso por nacionalismo: acreditam que o país tem de ser capaz de formar a quantidade necessária de médicos para um atendimento digno à população. E não deixam de estar certos. Porém não há sentido em permitir a morte de pessoas por causa da falta de planejamento das autoridades políticas nas últimas décadas. Então, se no momento a vinda de profissionais estrangeiros é uma alternativa viável para salvar vidas, estar contrário a isso é pura xenofobia.

A medicina no Brasil sempre foi sinônimo de status. Até hoje grande parte dos médicos pertence à famílias financeiramente bem sucedidas. Mesmo que, nos últimos anos, medidas e investimentos aplicados no setor de Educação tenham tornado mais acessível o ingresso de brasileiros pobres no ensino superior de medicina. Sistemas de bolsas e financiamento de cursos têm permitido o início de mudanças na realidade histórica do Brasil, em que medicina sugere riqueza.

No entanto ainda há muito para se consertar por aqui no que diz respeito à saúde pública. Parte das mudanças depende do governo, outra parte depende da vontade dos brasileiros. Da administração pública devem continuar as melhorias no sistema educacional. Porém a mudança também precisa acontecer na mentalidade dos estudantes – ricos ou pobres – para que não vislumbrem na medicina apenas uma oportunidade de terem uma vida luxuosa, mas sim uma forma de entrega solidária.

Os cubanos receberão pelo serviço prestado. Nada mais justo. Mas há algo muito maior que eles podem oferecer ao Brasil: o senso de solidariedade, que tem faltado em muitos médicos. De fato, não há veracidade no dado de que faltam profissionais no Brasil. De acordo com o Censo do Conselho Federal de Medicina (CFM), Cremesp e Ministério da Saúde, divulgado pela revista IstoÉ (edição nº 2277 - 23/07/2013), há pouco mais de 388 mil médicos atuantes no país. Segundo o professor e médico, Marco Aurélio Smith Filgueiras, em números gerais isso significa um médico para cada 543 habitantes.

Ainda em artigo publicado no site do Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba (CRM-PB), Filgueiras aponta que essa quantidade excede o estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que seria de um profissional para cada mil pessoas. Portanto, o real problema é a falta de médicos nas regiões mais precárias e afastadas dos grandes centros. No Norte do país, por exemplo, há 1,01 médico para cada mil habitantes, conforme dados do mesmo Censo.

Enfim, a ausência de médicos especialmente no Norte e Nordeste deve-se pelo lento e insuficiente desenvolvimento dessas regiões. Os médicos formados preferem exercer a profissão nos locais mais desenvolvidos, o que é até compreensível. Por isso mesmo, não pode haver empecilhos à chegada de profissionais que estejam dispostos a cobrir área defasada. É inadmissível aceitar pessoas sofrendo pela falta de atendimento na saúde devido aos ataques discriminatórios de médicos soberbos e pessoas desinformadas. Tomara que os estrangeiros demonstrem que a medicina é muito mais um ato de generosidade que um investimento financeiro.

  Luiz Fabiano/Futura press


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