Fanatismo é o novo pão de cada dia?

Gabriel de Paiva (Agência O Globo)


Quem viu essa semana a notícia de que jovens pretendiam ficar acampados por 45 dias em torno do Sambódromo, no Rio de Janeiro, apenas para garantirem um lugar melhor no show do cantor americano Justin Bieber, pode ter ficado um tanto chocado com a informação. Possivelmente se perguntou: “Para que isso?”. Afetação, falta do que fazer ou o fanatismo já pode alimentar tanto quanto o pão de cada dia? A julgar pelo morador deitado ao lado da barraca na imagem acima, as duas primeiras opções parecem condizer melhor com a realidade.

Muitos, inclusive pais, defenderam a euforia desses fãs argumentando que é um comportamento típico dessa idade. Qual idade exatamente, se havia maiores de 18 anos acampados? Tudo bem que a adolescência se prolongou até os 25 anos, mas não significa que as atitudes infantis e impensadas devam perdurar também. Além disso, é nessa fase (seja lá com qual idade) que as ações inconsequentes precisam ser corrigidas.

É preocupante que jovens queiram morar na rua por cerca de 40 dias apenas para ver um ídolo mais de perto. Pior ainda, com apoio de pais. Foi preciso a intervenção do Ministério Público e da Secretaria Municipal de OrdemPública para acabar com a insanidade. Não fossem as autoridades públicas (e não de pais) e o “plano”, na perspectiva dos acampados, teria dado certo.

Adolescentes têm ídolos, adultos também. Admirar ou espelhar-se em alguém é normal, desde que não ultrapasse os limites da própria realidade. Considerando o relato de uma garota integrante do grupo que disse ficar cerca de 5 horas por dia no acampamento, em média os jovens desperdiçariam, até o fim do período, 225 horas. Em média, reitero, pois alguns até dormiram no local.

Um tempo livre oportuno para praticar atividades mais saudáveis, como por exemplo, ler livros, estudar, aprender um idioma ou a tocar um instrumento, praticar exercícios, visitar museus, ir à teatros. Enfim, para citar o mínimo da infinidade de tarefas mais importantes e proveitosas para se realizar, especialmente na juventude, uma época da vida que permite facilidade de aprendizagem e menos obrigações.

O ponto auge desse fato bizarro é que alguns pediram dinheiro no sinal “só por diversão”, nas palavras de uma das envolvidas. Muito preocupante não terem consciência da gravidade dessa ação. Primeiro por retirarem o ganho dos verdadeiros necessitados – não que essa situação seja ideal, mas é preciso considerar que esse ainda é o sustento de muita gente, infelizmente. Segundo por se divertirem com uma realidade trágica dessa.

Que tipo de sociedade está-se construindo com adolescentes que ignoram as carências do próximo e ainda zombam dela? Como confiar em pessoas que desperdiçam tanto tempo esperando a chegada de um ídolo que sequer os conhece e, por imprevistos, pode nem chegar a vir? Se o futuro do mundo depender de adolescentes tão alienados e individualistas e de ídolos irresponsáveis, então é melhor que esse futuro demore bastante para chegar. 

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