Mídia Ninja: um novo modelo midiático?
Pablo Capilé e Bruno Torturra, integrantes do Ninja, no programa Roda Viva |
Após ler um post no Ferramentas Foca e assistir a entrevista dos integrantes Pablo Capilé e Bruno Torturra
ao programa Roda Vida, não me contive em opinar sobre a mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação). Resumidamente, a Ninja é uma imprensa independente que tem
por objetivo noticiar aquilo que a imprensa tradicional não considera
relevante. Ou seja, a versão dos fatos pela ótica dos envolvidos e maiormente
prejudicados. No caso dos protestos ocorridos em junho, por exemplo, os
manifestantes eram os protagonistas da notícia.
Essa atitude de informar apenas por uma perspectiva tem
deixado a mídia tradicional irritadiça e desconcertada. Na opinião de
jornalistas e veículos veteranos, a prática dos Ninja não pode ser enxergada
como jornalismo porque não respeita princípios básicos como isenção e
imparcialidade. Sim, o argumento infundado pode provocar risos nos mais
conscientes, afinal desde quando a imprensa tradicional desse país pratica
jornalismo independente e isento? Desde nunca. Portanto justificativas dessa
espécie, parecem se tratar de uma forma de boicote. Afinal, não é interessante
para a mídia tradicional, que o "sistema Ninja" se estabeleça.
Mídia tradicional x Midía Ninja
Antes uma mídia parcial ao lado da sociedade do que uma
imparcial se lixando para a comunidade. Isso porque nossa velha imprensa tem
predileção por não se envolver nos fatos, somente transmiti-los. Assim não se
compromete frente aos anunciantes públicos e privados, mas também não deixa de
cumprir seu papel de informar. Entretanto, de repente surge uma organização que
claramente possui uma posição e a preferência pelos cidadãos em busca de uma
sociedade mais igualitária. E passa a ser bem recebida pelo público, que se
sente devidamente representado. Logo, a imprensa tradicional passa a criticar
as ações desse novo modelo de mídia.
Nas últimas semanas foram divulgados depoimentos de
ex-integrantes do Fora do Eixo - grupo ao qual pertence os Ninja - a respeito
do funcionamento desse sistema (que nem eu e nem os jornalistas convidados do Roda Viva
conseguiram compreender muito bem). Segundo Capilé, a organização é constituída por núcleos
engajados no objetivo em comum de informar de modo independente, através de
aparelhos tecnológicos com acesso a internet. Conforme ex-membros, na prática,
o sistema utiliza a mão de obra barata, ingênua e comprometida para gerar um
lucro ainda desconhecido para a maioria, todavia bem explorado pelos
dirigentes.
É óbvio que se seus empregados colaboram fanaticamente com a produção de conteúdo, cobrando apenas o mínimo para se manterem (isolados dentro de uma casa), o
seu ganho será maior. Isso até lembra o famoso sistema de pirâmide invertida,
mas, nesse caso, a promessa de sucesso nada tem a ver com dinheiro e sim com
ideologias. Uma característica atualmente muito expressiva nos jovens e também
mais barata por não se tratar de algo concreto. Por tudo isso, é cedo para definir se a mídia
Ninja possui realmente alguma ideologia ou se é mais uma empresa capitalista
usando da inocência e crença das pessoas. Por isso deixemos de lado a definição
maniqueísta e nos atentemos para esse novo modelo midiático.
Novo padrão de mídia
Durante décadas a mídia utilizou da massa para aquisição
de lucro. Eram poucos produzindo e impondo conteúdo para muitos, e de repente
surge um sistema em que são muitos gerando informação para uma quantidade
razoável, mas não massificada. E ainda sugerindo a possibilidade de os
internautas colaborarem com a produção de conteúdo. Fácil notar que o novo
modelo tem chances de dar mais certo, especialmente por considerar a interatividade
e a não imposição de normas técnicas de jornalismo.
A grande sacada dessa organização é que quanto mais gente colaborar produzindo por vontade própria, mais informação é emitida e de diversos pontos de vista, ao mesmo tempo em que mais pessoas se agradam e se sentem motivadas a ajudar, também gratuitamente. Ou seja, há uma geração infinita de conteúdo sendo produzido sem custos, mas que certamente no futuro será um grande atrativo para anunciantes e patrocinadores. E, claro, um ambiente também suscetível a manipulação.
Por hora, a Mídia Ninja,
ideologicamente ou não, pode mesmo ser um novo padrão midiático. É informação
democrática sendo veiculada por pessoas motivadas não por dinheiro, mas por
interesses pessoais e em comum. E inteligentes o bastante para compreenderem
que o coletivo engajado na melhoria sobressai aos interesses e ideologias
de partidos ou pequenos grupos específicos. A Mídia Ninja é uma imprensa
alternativa mais estruturada, melhor equipada e informada e a favor de mudanças
reais na prática jornalística atual – que tem por característica ignorar os anseios
de seu público consumidor. Resta saber se a motivação é humanitária ou
capitalista.
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