É proibido protestar!

 Foto: Marcos de Paula/Estadão
                                                                                   

É evidente que 20 centavos isoladamente não fazem diferença no bolso de ninguém. Mas quando se multiplica por quatro passagens diárias, por exemplo, já são 80 centavos que, em 30 dias, somam 24 reais a mais (além dos 3 reais) pagos por um serviço de transporte público precário e inseguro. Não é preciso ser matemático para calcular que o aumento não condiz com a melhoria do serviço prestado, portanto é sim INACEITÁVEL.
Não importa se são filhos de papai que realizam as manifestações contra o aumento da passagem. Não interessa se, em toda minha vida, nunca entrei num ônibus, o fato é que a alteração é injusta. Seria justa se viesse acompanhada de um transporte mais limpo, mais confortável, mais seguro contra ações de criminosos, todavia o aumento prevê apenas melhorias para as empresas responsáveis pelo serviço e, claro, para o Estado.
Sendo assim, foi cretina a cobertura midiática sobre os fatos, sempre realçando o vandalismo em detrimento do protesto à uma mudança ilegítima. De início, os veículos de comunicação do país se mostraram a favor do Estado em relação aos protestos, mas agora, depois de jornalistas terem sido ofendidos ou agredidos, a polícia é cruel e a causa é justa. É a imprensa brasileira sempre trabalhando pela própria causa... E a sociedade "ó".
Notícias foram veiculadas à exaustão, enfatizando a ação arbitrária dos jovens em relação à policiais e patrimônios públicos e privados. A imprensa expôs que os atos causaram transtornos no tráfego e revolta entre os motoristas. Entretanto para que as ações tenham efeito é preciso notoriedade e não há lugar melhor em São Paulo para atingir o coração da sociedade e da administração, do que a avenida Paulista. Sim, destruir o que é público (ou privado), além de ilegal, é imoral, portanto discordo das atitudes drásticas que acabam por trazer ainda mais prejuízos.
Todavia, um país, em que governantes e polícias estão desacostumados a manifestações contrárias, notou-se, nos últimos dias, que é proibido protestar. Ainda que as ações tenham se iniciado pacificamente, a polícia esteve presente para “manter a ordem”, ou seja, pessoas unidas para contrariar os feitos de seus governantes, certamente causariam desordem. Na verdade, a presença tinha a simples intenção de intimidar mesmo e, infelizmente, alguns não souberam lidar com a adrenalina e enfrentaram as “autoridades”.
Mesmo que vândalos desligados de qualquer ideologia saudável tenham prejudicado os protestos, a revolta dos usuários do transporte ainda se justifica. Mais que isso, apesar de manifestantes e policiais terem se distanciado de seus objetivos iniciais, é reanimador ver que os jovens brasileiros são sim capazes de se organizarem para lutar por algo. Estamos vivos, atentos e ociosos por melhorias e por um sistema que represente de fato os interesses do povo. Uma das frases usadas nas passeatas deixou isso bem evidente: “Desculpe o transtorno. Estamos mudando o Brasil”.  
Torço para que isso seja verdade e a partir de agora passemos a mostrar nossos rostos de indignação também a cada vez que um político corrupto tentar se reeleger; sempre que mendigos forem brutalmente assassinados; quando a fila do SUS e o serviço prestado forem desumanos; quando decidirem gastar o dinheiro público na construção de estádios de futebol que não alimentarão pessoas famintas e a cada vez que as metas da Educação forem rebaixadas para que os resultados conquistados pareçam melhores.
Desse país de subversivos eu tenho orgulho de fazer parte, desde que não haja violências desnecessárias e os atos sejam verossímeis. E que os gringos estejam cientes de que esse é o país da Copa sim, um evento proposto sem consultas à população, em um país carente do que é básico, mas com dinheiro público para sediar um espetáculo circense bem aos modos da política do pão e circo. Certamente se a Copa do Mundo fosse este ano, as tarifas já teriam baixado, afinal estão nos adestrando para receber visita.

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