7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo - Abraji



Este ano participei do 7º Congresso realizado pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) em parceria com a Universidade Anhembi Morumbi e aqui vai um registro pessoal desse evento, com resumos das palestras e fotos. O congresso teve a participação de 632 inscritos de 25 estados do país. Lembrando que eu não fotografei todos os palestrantes, por isso o uso da legenda em alguns casos.
Antes dos resumos, minha impressão: O congresso foi certamente muito bem organizado, as pessoas estavam bem informadas e foram muito solicitas. Algo que me deixou feliz foi a simpatia dos palestrantes, tanto famosos quanto anônimos. Tive a oportunidade de chegar pertinho de excelentes profissionais brasileiros da área. Tirei fotos com a maioria, mas não postarei aqui por razões pessoais. A minha conclusão é que o evento é uma ótima oportunidade para estudantes e jornalistas adquirirem amplos conhecimentos. Vale a pena!
Na foto abaixo estão o kit que os participantes recebem ao realizar o cadastramento no primeiro dia e o certificado que pode ser retirado a partir do último dia de congresso. E o livro "Comando Vermelho", de Carlos Amorim, que comprei no stand do evento e um bloco de anotações da Embraer, ganhado ao fim do terceiro dia do congresso.





Resumo

12/07
Licitações: Uma introdução à lei 8.666 para jornalistas
Palestrante: Flávio Ferreira (Folha de São Paulo)


        Foto: Flavio e Cleber Abramo no 6º Congresso (2011)
Mensalão
Em sua palestra, Flávio citou o caso do Mensalão, em que houve fraudes no contrato da agência de publicidade do empresário Marcos Valério com o Banco do Brasil (BB).
No caso, a Visanet fez antecipações de dinheiro, que somaram o valor de R$ 76 milhões. Além do Visanet, o Bônus de Volume e empréstimos também foram fontes para o Valerioduto. As antecipações foram autorizadas por Henrique Pizzolato, diretor de marketing do BB na época.
Estima-se que o marketeiro Duda Mendonça, recebeu R$ 11 milhões não declarados para realizar a campanha de Lula em 2002.
Flavio Ferreira informou que, segundo o relatório da Polícia Federal (PF), os contratos de publicidade no Brasil são muito subjetivos, o que facilita as fraudes.

Operação Castelo de Areia

Sobre a Operação Castelo de Areia, realizada pela PF em 2009, Ferreira explicou o esquema fraudulento conhecido como “jogo de planilha”.  Nesse sistema, as licitações de obras públicas foram alteradas, de modo que os itens com baixo preço (que levaram determinada empresa a ganhar o processo licitatório), na prática, eram adquiridos em pequena quantidade, já os serviços mais caros licitados em menor quantia, aumentavam no decorrer da obra.
O que facilita esse tipo de corrupção é o fato de que o Tribunal de Contas da União (TCU) acompanha somente a licitação das obras e não o processo de execução.
Nos casos de investigação jornalística em que haja suspeita de fraude em licitações, os jornalistas podem recorrer aos técnicos do TCU, que não possuem ligação política ou partidária. Ferreira também alertou que “o jornalismo bem feito também deve dar oportunidade de defesa para a parte suspeita ou incriminada”.

Lei 8.666

Também foi debatida a Lei 8.666, que estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios.
“Nós jornalistas temos o direito de acessar os gastos e contratos públicos. Afinal, é uma prestação de contas obrigatória”, comentou Ferreira.

Linha 5 do Metrô de São Paulo
Já sobre os consórcios paralelos, foi discutido o caso da “linha 5 do metrô”, ocorrido em 2010, em que o MP de São Paulo constatou o crime de cartel. Nessa situação, construtoras firmam entre si um contrato, que define qual empresa executará a obra licitada. E, por fora, é feito um acerto (divisão dos lucros) entre todas.

Queda de Palocci

Na palestra também foi citado o episódio da queda do então ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, no qual as reportagens da série "O patrimônio e as consultorias que derrubaram Palocci", sobre o enriquecimento do ex-ministro deram o Prêmio Esso de Jornalismo 2011 à Folha de S. Paulo. A principal categoria do prêmio foi para os repórteres Andreza Matais, José Ernesto Credendio e Catia Seabra.
Sobre o assunto, Ferreira afirmou que a “imprensa contribui mais quando não é uma mera repetidora de informações” e que estima o esforço autônomo do jornalista.

BR-101
A PF descobriu em 2011, que na duplicação da BR- 101, dos cinco trechos entregues pelo governo federal à empreiteiras, três apresentaram indícios de fraude, pagamento de propina e má execução de serviços. Ferreira citou que, em Pernambuco, a PF descobriu que o consórcio que venceu o trecho 7 (Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, Odebrecht e Barbosa Mello) deixou de instalar barras de aço subterrâneas necessárias para dar estabilidade à pista, comprometendo a durabilidade e a segurança da rodovia.

12/07
Investigação de Empresas Privadas
Palestrante: Maria Helena Petterson (Ernst & Young)



Foto: Google
Regras de Auditoria
Há aproximadamente 400 e poucas mil empresas de capital aberto no Brasil e 70% dos investimentos na Bolsa de Valores brasileira são de recursos internacionais. Entretanto, devido ao pouco interesse do mercado pelas novas Normas Brasileiras de Auditoria (aprovadas em 2010 pelo Conselho Federal de Contabilidade - CFC e convergidas ao padrão internacional), “considero difícil investigar empresas no país, todavia estamos em uma fase de amadurecimento", comentou Maria Helena.
Já o mercado dos EUA ainda é o maior e mais líquido mercado do mundo, devido à grande ênfase que dá a transparência, por possuir custos regulatórios elevados e ter a SEC (Securities and Exchange Commission) exercendo supervisão efetiva no mercado.
No Brasil, há por volta de 33 empresas listadas na SEC, incluindo a Petrobrás. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) é a agência brasileira que corresponde à SEC, regulamentando o mercado de capitais, porém com menos recursos.

Capital Aberto
  • Apresentam um conjunto de informações ao mercado
  • As demonstrações financeiras são auditadas
  • Possuem órgão de supervisão na estrutura de governança (consultoria independente)
  • Ações e valores mobiliários negociados de modo regulamentado
Obrigações contínuas
  • Profunda mudança cultural no Brasil
  • As divulgações sobre o que é importante precisam ser mais eficientes (a alma do negócio)
  • Obrigação de comunicação contínua com investidores e analistas de mercado
 Investidores precisam ser informados
  •  Operações e negócios atuais e futuros
  •  Situação financeira
  • Corpo de executivos
  • O que esperar das demonstrações financeiras
  • Quais empresas são listadas no mercado dos EUA
Fontes de informações
  •  Website internacional e de relações com investidores
  • Companhia de capital aberto
  • Companhia de capital fechado
  • Relatório anual
  • Relatório de sustentabilidade
  • Press or earnings releases (que não são auditados e escritos pelo setor de relações com investidores)
A respeito desses releases, Maria Helena alerta: “Jornalistas precisam ler os releases junto com demonstrações financeiras e outras análises, fazendo o cruzamento de informações”.

13/07 
Transparência Pública e Lei de Acesso: O Papel da Mídia
Eixo: Acesso a Informação
Palestrante(s): Claudio Weber Abramo (Transparência Brasil)
Foto: Google
A implantação da lei não criou um direito, pois o acesso a informação já está previsto na Constituição, a lei apenas regulamenta os direitos cabíveis no âmbito federal.
  • Porém, a Academia tem pouquíssima participação nessa demanda, pois no país trabalha-se com a doutrinação.
  • As associações não têm capacitação para buscar informação.
  • O setor privado também não se importa com a busca por informações nem do país e nem do mundo. As empresas têm os dados que lhe interessam, mas que não costumam ser divulgados.
  • Portanto cabe a imprensa o dever de buscar e divulgar os dados. É o “setor” responsável por melhorar a qualidade e a demanda de informação.
É à CGU (Controladoria Geral da União) que cabe recorrer nos casos de indeferimento de informação, mas novamente, apenas no âmbito federal, pois os municípios e estados não possuem um órgão equivalente.
A informação é importante para a economia, afinal, “as decisões dependem da qualidade da informação recebida”. Por exemplo, se um posto de saúde for instalado em um local indevido, a ação resultará em prejuízos.
Mesmo havendo a manipulação de informações - especialmente de natureza financeira - monitorar os gastos públicos e de funcionários nos permitem saber com o que o dinheiro público está sendo gasto.
A lei regulamenta a oferta da informação, o que não quer dizer nada sobre demanda, pois ela já existe ou não haveria a lei. No Brasil, essa demanda por informação estruturada é feita pelos acadêmicos, sindicatos, ONGs, imprensa e grupos organizados.
Existem cerca de 800 jornais diários no Brasil, distribuídos em 5.565 mil municípios. Os jornais Estadão e Folha de S. Paulo juntos não chegam a vender 600 mil exemplares no país, ou seja, a sociedade paga pouco pela informação. Mais de 40% dos municípios dependem de repasses financeiros e grande parte dos jornais depende das Prefeituras. Já nos estados mais distantes a imprensa é controlada por oligarquias.
Informação negada
No caso em que os setores públicos não dão informações, o único meio para os veículos é o judicial. Porém essa ação é extremamente cara e improdutiva. Por isso o Ministério Público deveria ter uma função mais eficaz para garantir que as informações sejam dadas. 

13/07
Sessão Solene - Homenagem a Janio de Freitas
Palestrante: Janio de Freitas (Folha de São Paulo)
A Sessão homenageou os jornalistas Jânio de Freitas – colunista da Folha de São Paulo que completa 80 anos em 2012 – e  Tim Lopes – assassinado em julho de 2002 enquanto fazia reportagem sobre prostituição infantil numa favela carioca, morte que culminou na criação da Abraji. De acordo com o presidente da Abraji, Marcelo Moreira, os profissionais foram homenageados “por terem trabalhado rotineiramente pela liberdade de imprensa no Brasil”.
“O risco é intrínseco ao trabalho do jornalista”, disse o presidente da Abraji, completando que por isso há a necessidade de órgãos que protejam esses profissionais.
Jânio de Freitas demonstrou-se muito emocionado e pronunciou poucas palavras. Agradeceu a homenagem e comentou sobre a função do jornal impresso, afirmando que o papel não será extinto, mas deve encontrar um formato atual para existir. “Encontrem o que deve ser o jornal do seu tempo. Um jornal que tenha qualidade na relação com o leitor”.
Em um vídeo-documentário, produzido pela Abraji, José Ramos Tinhorão declarou sobre o amigo : “Não chegava a ser radical, mas era um homem de posições firmes”.
O filho de Tim Lopes, Bruno Quintella foi quem recebeu a homenagem feita ao pai. Bruno agradeceu e ressaltou a importância da Abraji e do 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. Evento no qual ele iria, mais tarde, transmitir um documentário sobre a morte do pai.



13/07

Jornalismo Cidadão: Proteste Já
Palestrantes: Marcelo Tas (CQC), Gastón Turiel (Proteste Já), Maxi García Solla (Proteste Já), Vanessa Alcântara  (Proteste Já)

O “Proteste Já” é o quadro do CQC (Custe o Que Custar), programa da Band, que mais recebe investimentos, tanto financeiro quanto de pessoal.
Marcelo Tas apresentou os colegas de trabalho, Maxi García Solla (coordenador de conteúdo) e Gastón Turiel (produtor), responsáveis pela criação do quadro na Argentina (origem do CQC), claro, de maneira bem humorada. “Eles são argentinos... Mas como são ambiciosos, querem morar em um país [Brasil] de primeiro mundo”.
Maxi citou quais as ações da equipe para transformar uma denúncia em matéria para o quadro. Segundo ele, essa é uma tarefa árdua, que exige tempo, dinheiro e muito cuidado. “Parece fácil, mas é difícil achar denúncias para a TV”. Gastón completou: “E é de extrema importância a apuração dessas denúncias”.
A respeito de críticas ao CQC, Tas afirmou que as considera importantes, mas a maioria dos recados que recebem, são de elogios. “Muita gente gostaria até que fosse diário. Talvez o Jornal Nacional e, quem sabe, o [Marco] Luque fosse a Patrícia Poeta”, brincou o âncora. Tas também informou que “o programa tem função de despertar o interesse do país por política”, mas alertou que o CQC não deve ser utilizado como único meio de informação, pois, afinal, é um humorístico.
Sobre a polêmica ocorrida em Brasília, em abril, em que o repórter do programa, Maurício Meirelles estaria atrapalhando o discurso de Hillary Clinton, Tas esclareceu que as brincadeiras só foram feitas antes e após a fala de Hillary e que, tanto o jornalista quanto a produção, respeitaram os outros profissionais.

13/07

Copa 2014: Organização e Infraestrutura
Palestrantes: Juca Kfouri (CBN/ESPN Brasil/Folha de São Paulo), Walter de Mattos Jr. (Lance)

A Copa do Mundo tem mais de 3 bilhões de espectadores. E no Brasil os investimentos estimados nas obras para a Copa é de R$ 27,1 bilhões. Desse recurso, 98,7% direcionados aos estádios é de dinheiro – direta ou indiretamente – público.
“Nós não podemos realizar uma Copa da Alemanha no Brasil”, alertou Juca sobre os gastos exagerados com o evento.
Para diminuir gastos desnecessários, Juca é favorável as concessões de estádios de futebol por empresas privadas para reforma ou construção. “A gestão de um estádio pelo setor público é precário, por isso a importância das concessões”, afirmou.
“Olhar para o esporte no Brasil é notar que ele está mais atrasado que a política” (Juca)
No caso de ser bem planejada e desenvolvida, a Copa 2014 dará retorno em 10 anos, tanto de investimentos internacionais, melhorando a economia, quanto de retorno turístico.
O idealismo da infraestrutura deve ser focado nos setores de hotelaria, aviação e estradas, pois os estádios, mesmo não sendo os ideais, podem ser utilizados plenamente.

A Imprensa

Com relação a atitude da imprensa sobre a organização e os investimentos descontrolados para sediar a Copa, Juca e Walter foram categóricos:
“O papel que a imprensa cumpre é insatisfatório diante desse cenário” (Walter)
“Infelizmente o meio pelo qual a população brasileira mais se informa é o Jornal Nacional. Só que, em se tratando de esporte, ele é ainda menos independente” (Juca)
“[Política] É corrupta, corrompida, corruptora e incompetente” (Juca)
“Essa falta de informações verdadeiras gera promiscuidade” (Juca)
Citando exemplo de países que já sediaram uma Copa do Mundo e só obtiveram ônus, Juca afirmou que 10% da origem da dívida grega estão nos gastos com esse evento. Canadá também fez um mau negócio ao aceitar sediar a Copa.
“Com essa gente na Comissão, eu sou contra a Copa no Brasil” (Juca)


14/07
Uma História Inacabada: O caso Rubens Paiva
Palestrantes: Miriam Leitão (Rede Globo/Globo/CBN), Claudio Renato (Globo News)

A partir da reportagem “Uma História Inacabada: O caso Rubens Paiva”, os palestrantes explanaram sobre os desafios para a construção de uma reportagem televisiva.
Rubens Paiva foi capturado em 20 de abril de 1971 e até hoje seu corpo não foi encontrado.
A ideia para a matéria surgiu a partir da criação da Comissão Nacional da Verdade em novembro de 2011.
 “O segredo é conseguir informações novas para um assunto velho” (Miriam)
Miriam demonstrou muito apreço pela frase que Ulisses Guimarães pronunciou, a respeito do assunto, na promulgação da Constituição, em 1988: “A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram”.
Miriam e Claudio contaram detalhes sobre os desafios para a montagem da matéria como:
  •  Trilha sonora ideal
  • A busca por uma imagem em movimento de Rubens Paiva e o tratamento dessa imagem
  • As entrevistas cruciais para o desenvolvimento da reportagem
  • Como convenceram personagens reais da história que nunca haviam se pronunciado
  •  Duração da matéria (53 minutos) que estourou o time
  • A descoberta de que 68% dos brasileiros nasceram após o crime, por isso haveria a necessidade de recontar a história sem extrapolar o tempo
O Procurador Otávio Bravo foi a peça crucial para matéria, indicando aos repórteres os caminhos para chegarem à personagens que ainda não haviam sido descobertos.
Em uma entrevista com o ex-secretário geral do Exército, general Luiz Eduardo Rocha Paiva, Miriam defendeu Dilma Roussef, quando o general insinuou que ela não teria sido torturada. Miriam fez isso por dois motivos: primeiro porque a presidente não poderia se defender e isso renderia outra matéria. Segundo porque “entre um torturado e um torturador, eu tenho um lado, óbvio, o da vítima”, afirmou.
Claudio afirmou que mesmo com matérias em jornal, divulgação em redes sociais e colunas, ainda sobraram informações sobre o acontecido.
Claudio também informou que a rede social “Facebook” foi uma indispensável ferramenta para encontrar e se comunicar com personagens cruciais que seriam entrevistados.


14/07

Grande Reportagem em TV
Palestrante: Roberto Cabrini (SBT)

Cabrini iniciou a palestra transmitindo um vídeo com trechos de várias matérias que realizou desde o início de sua carreira, mas, especialmente com reportagens divulgadas no “Conexão Repórter”, programa do SBT, sobre temas polêmicos.
Para a pergunta: O que é uma grande reportagem em TV? Cabrini afirmou que é necessário realizar indagações a respeito do que é socialmente importante, levando em consideração em que o mundo vai melhorar com essa reportagem.
“A melhor reportagem tem sempre que ser a primeira”
“A nossa profissão é de muita entrega. Jornalismo é uma prestação de serviço à população”
“Melhorar a vida das pessoas é um exercício diário”

Dicas para um bom profissional:
  • Mostrar a realidade sob nova ótica
  • Não há espaço para acomodação
  • Nos casos de infiltração ou disfarce é aconselhável informar o Ministério Público
  • Não ultrapassar os limites
  •  
Foto: 6º Encontro de Jornalistas do Mato Grosso do Sul (2011)
 
Cabrini também falou sobre a relação do jornalista com as fontes, que deve ser cuidadosa, evitando os interesses pessoais da fonte, que podem gerar a corrupção da informação. Todavia o motivo pelo qual a fonte passa uma informação adiante, seja ele político, pessoal ou profissional, não deve interferir na reportagem. O repórter deve investigar todas as informações e evitar se render as razões de sua fonte.
“É necessário um exercício de eterna humildade. As fontes não procuram pessoas prepotentes”.



14/07
Crack
Palestrantes: Bruno Ramos (É de Lei), Marcelo Sodelli (PUC-SP)

Cracolândia
O “Centro de Convivência “É de Lei” é uma ONG que surgiu em 1998 e desde 2003 realiza um trabalho de redução de danos na Cracolândia, próximo ao Largo do Paissandú, em São Paulo.
Bruno é psicoterapeuta e voluntário na “É de Lei” e falou sobre o trabalho desenvolvido na Cracolândia, em que eles evitam a recriminação, propondo uma compreensão dos dependentes, a partir de um mapeamento dos freqüentadores e moradores do local.
Sobre a Cracolândia, Bruno pôde identificar que ela permite a identificação e o compartilhamento de interesses entre usuários, e não apenas o consumo do crack. “Esses dependentes químicos criaram uma sociedade à parte, onde também há regras de convivência. Roubo, por exemplo, não é uma atitude muito aceita por lá”, disse. Além disso, a pedra de crack virou moeda de troca no ambiente, pois muitos trocam a droga por objetos e vice-versa. Também há casos de pessoas que trabalham ou mantêm família, mas vão até a Cracolândia para negociar ou usar o crack.
A atitude de rejeição da sociedade dificulta os cuidados/melhorias aos dependentes. A intenção da ONG é trabalhar com a realidade da situação, sem maniqueísmo ou definições ideológicas.

A razão do vício
Marcelo é psicólogo, professor, pesquisador e escritor e comentou sobre a antiga relação do Homem com as substâncias psicoativas, ou seja, toda substância que altera o sistema nervoso central.
Para Marcelo, o slogan “não use drogas” usado em campanhas de prevenção pelo Governo ou entidades, apenas simplifica a questão. “A forma como tratamos as drogas nos últimos 50 anos é reducionista, proibicionista”, afirmou.
A discussão deve ser sobre a relação do homem com a droga, que surgiu por uma necessidade humana de se refugiar dos problemas e obrigações cotidianas. Ou ainda como forma de divertimento.
“As possibilidades que temos na vida geram angústias. E cada pessoa tem um modo de lidar com elas. Alguns recorrem às drogas”. “Trabalhar apenas com prevenção, proibição e retaliação não resolve a existência dessa problemática”.
O crack pode ter se tornado a droga mais popular devido ao seu baixo custo diante de outros entorpecentes e pelo Brasil ser vizinho dos principais países produtores. “O crack não vicia no primeiro uso, mas sim a continuidade e a razão para o uso”.

14/07
Super Session: Page One
Palestrantes: Rosental Calmon Alves (Centro Knight para o Jornalismo nas Américas), David Carr (NYT/EUA)

“A reportagem investigativa não paga as contas”. 40 mil jornalistas foram demitidos do The New York Times desde 2007. O jornal vale US$ 1 bilhão, mas os fundos de pensão têm um déficit de U$s 1,5 bilhão.
Para David, os jornais brasileiros têm baixa introdução na sociedade, mas vocês têm a oportunidade de observar os erros do mercado impresso norte-americano e aprender com isso, “evitando os mesmos prejuízos e a queda na quantidade de leitores”.
“Somos [jornalistas] pessoas que se adaptam o tempo todo”
“Esse é o melhor momento de todos os tempos para ser repórter, pois vocês contam com aparatos que agilizam todo o trabalho de um repórter. Mas, ao mesmo tempo, a quantidade de informação é infinita. Sobre o excesso de informação ele brincou: “Estou velho e ser repórter hoje é tão exaustivo quanto morar em São Paulo”.

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