"A fuga das Sacolinhas"
Ir ao supermercado
normalmente já não é legal, mas ter feito isso no dia 5 de abril de 2012 foi bem pior.
Entrei no mercado e não notei nada de diferente. Pessoas atrasadas, crianças
fazendo drama para conseguir o melhor ovo de páscoa, mulheres pegando
absorvente de última hora, gente atrasando a fila. E até ouvi alguém comentar
no caixa: “Como assim, não tem sacola?”. Na hora achei estranho, mas nem me
toquei do que se tratava.
Focada na minha razão de
estar ali e com uma cesta em mãos, fui até a parte do açougue e pedi 3 quilos
de carne moída, enquanto uma mulher pedia 300
gramas de
mussarela “magra”. Fiquei me perguntando o que ela queria dizer com aquilo, até
que um garoto passa correndo e quase me derruba. Foi aquele momento em que me
lembrei do porquê odiava supermercados.
Acompanhei o garoto
trombar em uma prateleira e fui até o setor de higiene, onde peguei 2 pacotes
de absorvente, cotonetes e um pacote de papel higiênico, daqueles que vem oito
rolos. Saindo do setor, uma senhora me perguntou se eu sabia qual era o
corredor dos produtos de limpeza, porque ela queria comprar um perfume para o
marido. Eu, mesmo não querendo acreditar que aquela senhora, de uns 80 anos,
estava sendo irônica, indiquei o corredor 4.
Nisso me lembrei que precisava
de um bom ar e de uma vassoura, fui até o setor correspondente e coloquei os
produtos na cesta. Parei. Pensei um pouco se não estava esquecendo alguma
coisa. Mas não estava, a não ser que tivesse me esquecido que estava esquecendo.
Fui para o caixa, onde
havia uma fila com 3 pessoas na minha frente. Aproveitei para ligar para minha
mãe, que, como sempre, reclamou da minha demora em dar notícias. E foi essa
palavra que me deixou em
alerta. Vi uma
das pessoas que estavam na minha frente saindo com as compras no braço e me
lembrei do que ouvira logo que entrei no mercado: “Como assim não tem sacola?”.
Como assim não tem
sacola? Repeti a frase em voz alta e o homem que estava atrás de mim me disse
que o fornecimento das sacolinhas havia sido proibido, que tinha passado até no
Jornal Nacional. Eu sorri, simpaticamente, agradecendo a informação, me sentindo
a pior profissional do mundo: Como que uma jornalista esquece de uma notícia
dessas?
Recordei que fora tudo
por causa de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado entre o
Ministério Público e a Associação Paulista de Supermercados (Apas), no dia 4 de
abril.
Chegou a minha vez de
pagar. A moça do caixa parecia não estar nos melhores dias, pois nem
cogitou levantar a cabeça para perguntar qual a forma de pagamento. Vi o preço
no visor, retirei o dinheiro da bolsa e entreguei a ela. E, de repente, ela me
pergunta se eu queria comprar uma sacola. Respirei fundo e respondi: “Não, eu
quero a sacolinha de sempre, é que sou uma pessoa meio nostálgica, sabe?”
“Não”, disse a moça,
informando que as sacolinhas comuns não podiam mais ser fornecidas, mas que
havia uma ecologicamente correta (sim, ela usou esse termo) por R$0,19.
Simpaticamente, eu perguntei a ela onde havia ido parar as sacolas que estavam
ali até ontem. Ela respondeu que haviam sido recolhidas para serem descartadas.
Sem querer brigar com a
moça, que não tinha culpa. Respirei fundo novamente, peguei minhas compras e
agradeci dizendo que eu não iria compactuar com a farsa das sacolinhas
biodegradáveis que só me fariam torrar mais dinheiro. Com os itens básicos que
comprei na mão, saí do mercado e andei apenas duas quadras exibindo, entre
outras coisas, um grande pacote de papel higiênico e um bom ar.
De repente, começou a
chover e no desespero não consegui encontrar a chave do carro. Fui obrigada a
colocar tudo em cima do veículo, mas nisso minha agenda caiu da bolsa e molhou.
Foi aquele momento em que eu perguntei em voz alta: “Será que se eu ligar para
o Kassab ele tem uma sacolinha em mãos?”.
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